sexta-feira, novembro 18, 2005

MEMÓRIAS DE UM MARIDO "TRAÍRA"

Esta me foi contada pelo meu irmão, Marcílio:
Um amigo dele, boêmio e mulherengo de carteirinha, porém casado, vez em quando "aprontava", entregando-se a homéricas farras, o que fazia a infeliz consorte(?) se descabelar e viver no seu encalço sempre que podia.
Em mais uma de suas noites de orgia, depois de tomar todas com colegas de trabalho num pouco recomendável barzinho da periferia, cada um arranjou uma parceira e saíram em caravana pra a beira-mar, com dois casais em cada carro, com a "inocente" finalidade de ver "corrida de submarino" (isso aconteceu num tempo em que essa prática não significava, ainda, um risco de vida). E foi um tal de pernas, braços e cabeças a se engalfinharem naquele pequeno espaço ... uma verdadeira promiscuidade!
Ao raiar o dia, viram, horrorizados, que haviam extrapolado o limite do horário de chegar em casa ainda com uma desculpa razoável e, desfazendo-se das suas parceiras, rumaram pros seus lares, cada um a "bolar" uma justificativa impossível pra aquele execrável ato.
Tendo deixado o amigo no caminho, o sujeito em questão, ao aproximar-se da sua casa, vislumbrou o seu mais temível pesadelo: Lá estavam, alinhadas que nem meio-fio, sua esposa e ninguém menos que a sua terrível sogra, contumaz desafeta, que nunca entendeu o porquê da filha ter escolhido semelhante cafageste pra marido, quando havia tido tantos pretendentes tão mais aceitáveis antes dele. De longe, o cara já viu o que o aguardava: As duas, de "mãos nos quartos", balançando uma das pernas, com aquelas caras de quem está prestes a explodir (só faltava o fatídico rodo nas mãos). Dentre todos os impropérios que ouviu, enquanto fechava o carro, só uma frase o fez estremecer: "Vamos chegar atrasadas no casamento!" ... Foi aí que ele lembrou: Logo mais, às 09:00 horas, o casal estava escalado para apadrinhar o casamento de uma das irmãs da esposa! E o evento iria se realizar numa cidadezinha a uns 200 km dali!
O miserável quis morrer! Com aquela ressaca, aquele gosto de brecha de tamborete e de cabo de guarda-chuva na boca, um sono de matar! E ainda tinha que estar lindo e loiro, todo engravatado, em um recinto em que estaria presente toda a família dela (que, não por acaso, não o via com bons olhos)! ERA A MORTE!
Aproveitando-se da exiguidade de tempo, passou pelas duas feito uma bala, sem dar a mínima satisfação, entrou no chuveiro, arrumou-se todo e entrou no carro, onde as duas já haviam se aboletado, pensando na desagradável cantilena que iria escutar durante todo o percurso. Começou a tentar desenvolver velocidade, mas sentiu alguma coisa impedindo o acelerador de abaixar até o máximo. Foi aí que ele petrificou: Ao dar uma espiada pra baixo, vislumbrou um sapato de mulher! Pronto. Estava perdido! Como defender-se do indefensável, agora que aquele inanimado objeto, silenciosamente, "entregava" sua abominável traquinagem?
Como todo bom malandro, logo teve uma idéia: Inventou que o carro estava apresentando um problema, diminuiu a marcha, abriu a porta, fingindo olhar o pneu traseiro e arremeteu no acostamento a prova do crime. Oh! Que alívio! Agora podia seguir a viagem sem mais atropelos que não o blá, blá, blá daquelas duas!
Chegou à igreja a tempo de ver que o carro que conduzia a noiva ainda adentrava o pátio. Apressado, dirigiu-se à entrada lateral, quando viu que as suas companheiras de viagem sequer haviam ainda saído do carro ... "Ora, bolas" - resmungou - "Essas duas com tanta pressa e ficam ali, só falando mal de mim". Voltou, já com ares de quem ia repreendê-las pela demora, mas parou e deu meia-volta, rindo cínicamente entredentes, quando ouviu o seguinte diálogo:
- Mamãe, é claro que a senhora esqueceu! Como é que o seu sapato poderia sumir daqui, se a senhora nem saiu do carro???
- Minha filha, eu num tô doida, não ... me responda como é que eu iria me arrumar todinha e calçar um sapato só, sem notar a falta do outro pé? Isso é um fenômeno inexplicável! E agora, como é que eu vou entrar na igreja?
A partir desse dia, toda vez que se junta com os amigos o safado é instado a contar essa história, que mais parece uma piada, razão porque resolví postá-la aqui.