terça-feira, novembro 29, 2005

RUÍDOS DA COMUNICAÇÃO II

Uma coisa engraçada, que me diverte muito, é ouvir pessoas que, pretendendo falar bonito, acabam pronunciando frases absolutamente truncadas. Relaciono aqui alguns exemplos, que me deixaram desnorteada até conseguir traduzir o seu real significado:



" A minha filha tem um problema: Desde que a mãe dela morreu, a menina ficou DRAMATIZADA" - na verdade, a garota havia ficado TRAUMATIZADA pela morte repentina da sua genitora.


"A minha colega botou o patrão na justiça e recebeu uma bolada, porque ele tinha INCENDIADO ela.". Quando perguntei se fôra uma tentativa de homicídio, a pessoa respondeu: "Não! Ele queria transar com ela à força! - ou seja, o patrão, na verdade, havia ASSEDIADO a moça.


"Eu vou me casar com outra. Aquela minha noiva, que você conheceu, não podia se casar, não, porque ela tinha um problema muito sério: SISTEMA NERVOSO! - afinal, pensei com meus botões, ele queria o quê? Que ela fosse um vegetal?


"O meu amigo sofreu um acidente tão sério, que teve a perna SEPULTADA!" - quando, de fato, a perna do inditoso havia sido AMPUTADA.


"Tô chegando atrasado porque passei a noite com a minha menina mais nova no hospital. É que ela teve uma CONFUSÃO". - Depois de alguns segundos de verdadeira confusão, concluí que a garota havia sido acometida de CONVULSÃO.


"Esse trabalho é muito cansativo ... eu já tô FATURADA dele!" - foi o desabafo de uma estagiária, SATURADA de fazer a mesma coisa, todo dia.


Tem aquela de um recém-convertido evangélico que, entusiasmado com a descoberta do Senhor Jesus na sua vida, não suportando o falatório dos irmãos antes do culto (achava uma falta de respeito, aquilo, dentro da igreja!), subiu ao púlpito, sacou o microfone e bradou, em alto e bom som: "IRMÃOS! VAMOS RESPEITAR A CASA DO SENHOR! ENQUANTO O PASTOR NÃO CHEGA, VAMOS LENDO UMAS BESTEIRINHAS AQUI, NA BÍBLIA ... É MELHOR DO QUE FICAR FOFOCANDO!

Esta também não fica atrás:
Num domingo de Páscoa, discutia-se o papel de Pilatos na crucificação de Jesus. Uns diziam que ele lavou as mãos para não se comprometer, outros opinavam que aquilo tinha sido uma atitude política centro-direitista, e tal... quando surge esta pérola: "Atitude política, acomodação, seja lá o que for, o que é certo é que quem se fudeu, mesmo, foi Jesus!
Considerando-se que o ocorrido se deu numa Semana Santa, o sacrilégio ficou bem mais grave, não acham?





segunda-feira, novembro 28, 2005

LITERATURA DE CORDEL

Desde menina aprendí a apreciar a poesia matuta, cantada e declamada ao som de pandeiros e violas, na Feira de Caruaru. Lembro duma surra memorável que tomei do meu pai, por ter ficado horas a fio na calçada da Catedral de N.Srª das Dores, depois da missa, onde deparei com uma dupla de emboladores que, apesar de analfabetos, discorriam sobre personagens da história com uma sabedoria impressionante, fazendo-me esquecer do tempo e, naturalmente, perder a hora estabelecida pra chegar em casa.

Das histórias de cordel, uma das mais criativas que conheço é esta:


Nos tempos da fatídica ditadura militar, havia, lá pras bandas do Agreste pernambucano, um Tenente da Polícia, truculento e irascível, por isso mesmo temido por qualquer um que tivesse um pouco de amor à vida, que, seguindo as ordens do comando, perseguia todo aquele que, fosse qual fosse o motivo, reunisse mais de três pessoas ao seu redor em via pública ... atitude suspeitíssima de subversão da ordem, é claro!

Ocorre que um repentista da cidade, conhecido pela sua verve bem-humorada e rima fácil, gozador inveterado, divertia-se em infernizar a vida do tal tenente, razão porque acostumara-se a ser preso quase que semanalmente, pois não perdia qualquer chance de desafiá-lo, sempre reunindo em torno de si grande número de espectadores, ávidos por assistirem as rotineiras contendas entre caça e caçador.

Num desses dias, um sábado, quando havia mais gente na rua, em virtude da feira, que trazia muitos habitantes da região àquele pólo comercial, estava o poeta a agradar a sua platéia, pandeiro na mão, a glosar motes sugeridos pelo povo, quando o temível tenente se aproxima. Cassetete na mão, afugentando os presentes e gritando impropérios mil, assoma à roda, quando o cantador solta o seguinte verso:

"VAI CHEGANDO UM CIDADÃO, UM HOMEM MUITO DECENTE ...
QUERIA VER MAIS UM GALÃO NOS OMBROS DESSE TENENTE".

De nada adiantou a tentativa de "ganhar" o sujeito na conversa, elogiando-o ...
O tenente investiu contra o poeta, aos gritos: " Não me venha com essa onda de elogio pra me enrolar, não, cabra! Junte seus troços aí e TEJE PRESO!"
Arrumando o material na mala, o repentista o seguiu, obediente e resignadamente, mas antes soltou o resto do verso:

"O GALÃO QUE EU TÔ FALANDO É UM GALÃO DIFERENTE:
É UM GALÃO COM DUAS LATAS: UMA ATRÁS, OUTRA NA FRENTE!"

Pra quem não sabe, aqui no Nordeste, em tempos de seca braba, o pessoal carrega água das bicas num "galão", que consiste em um cilindro de madeira (um cabo de vassoura, por exemplo), por sobre os ombros, com duas latas (uma em cada extremidade).

quarta-feira, novembro 23, 2005

O CAOS SOCIAL BRASILEIRO VISTO POR OUTRO PRISMA

Recebí este texto, de autor desconhecido, que transcrevo abaixo, porque bem humorado, mas com ressalvas. Só prova como é fácil denegrir o Brasil. Como o resto do mundo irá nos respeitar, se nem nós mesmos o fazemos? Por outro lado, cabe a seguinte questão: Seria diferente se o nosso país nos amasse como a maioria de nós ainda o ama?
Tô com Peninha e não abro: "Quando a gente gosta, é claro que a gente cuida"... (O pior é constatar que, embora fictícia, a notícia abaixo não está muito longe da nossa realidade).
A Al QAEDA QUERIA EXPLODIR O CRISTO REDENTOR. (Washington - CNN Special)
Documentos mantidos em sigilo pela Polícia Federal do Brasil revelam que a Al Qaeda, de Osama bin Laden, ordenou a execução de um atentado no Brasil. O alvo da ação seria a estátua do Cristo Redentor, um dos símbolos mais conhecidos do Rio de Janeiro. Bin Laden destacou dois mujahedins para o seqüestro de um avião que seria lançado contra a "estátua-símbolo dos infiéis cristãos". Os registros da Polícia Federal dão conta de que os dois terroristas chegaram ao Rio no domingo, 5 de setembro, às 21h47m, num vôo da Air France.
A missão começou a sofrer embaraços já no desembarque, quando a bagagem dos muçulmanos foi extraviada,seguindo num vôo para o Paraguai. Após quase seis horas de peregrinação por diversos guichês e dificuldade de comunicação em virtude do inglês ruim, os dois saem do aeroporto, aconselhados por funcionários da Infraero a voltar no dia seguinte, com intérprete. Os dois terroristas apanharam um táxi pirata na saída do aeroporto, sendo que o motorista percebeu que eram estrangeiros e rodou duas horas dando voltas pela cidade, até abandoná-los em lugar ermo da Baixada Fluminense.
No trajeto, ele parou o carro e três cúmplices os assaltaram e espancaram. Eles conseguiram ficar com alguns dólares que tinham escondido em cintos próprios para transportar dinheiro e pegaram carona num caminhão que entregava gás.
Na segunda-feira, às 7h33m, graças ao treinamento de guerrilha no Afeganistão, os dois terroristas conseguem chegar a um hotel de Copacabana. Alugaram então um carro e voltaram ao aeroporto, determinados a seqüestrar logo um avião e jogá-lo bem no meio do Cristo Redentor.
Enfrentaram um congestionamento monstro por causa de uma manifestação de estudantes e professores em greve - e ficaram três horas parados na Avenida Brasil, altura de Manguinhos, onde seus relógios foram roubados em um arrastão.
Às 12h30m, resolveram ir para o centro da cidade e procuraram uma casa de câmbio para trocar o pouco que sobrou de dólares. Receberam notas de R$ 100 falsas, dessas que são feitas grosseiramente a partir de notas de R$ 1,00 .
Por fim, às 15h45m, chegaram ao Tom Jobim para seqüestrar um avião. Os pilotos da VARIG estavam em greve por mais salário e menos trabalho. Os controladores de vôo também haviam parado (queriam equiparação com os pilotos).
O único avião na pista era da Transbrasil, mas estava sem combustível. Aeroviários e passageiros estavam acantonados no saguão do aeroporto, tocando pagode e gritando slogans contra o governo.O Batalhão de Choque da PM chegou batendo em todos, inclusive nos terroristas.
Os árabes foram conduzidos à delegacia da Polícia Federal no Aeroporto, acusados de tráfico de drogas, porque alguém tinha plantado papelotes de cocaína nos seus bolsos.
Às 18 horas, aproveitando o resgate de presos feito por um esquadrão de bandidos do Comando Vermelho, eles conseguiram fugir da delegacia em meio à confusão e ao tiroteio.
Às 19h05m, os muçulmanos, ainda ensangüentados, se dirigiram ao balcão da VASP para comprar as passagens, mas o funcionário que lhes vendeu os bilhetes omitiu a informação de que os vôos da companhia estavam suspensos. Eles, então, discutem entre si: começam a ficar em dúvida se destruir o Rio de Janeiro , no fim das contas, é um ato terrorista ou uma obra de caridade.
Às 23h30m, sujos, doloridos e mortos de fome, decidiram comer alguma coisa no restaurante do aeroporto. Pedem sanduíches de churrasquinho com queijo de coalho e limonadas. Só na terça-feira, às 4h35m, conseguem se recuperar da intoxicação alimentar de proporções eqüinas, decorrente da ingestão de carne estragada usada nos sanduíches. Foram levados para o Hospital Miguel Couto, depois de terem esperado três horas para que o socorro chegasse e percorresse os hospitais da rede pública até encontrar vaga. No HMC foram atendidos por uma enfermeira feia, grossa, gorda e mal-humorada. Debilitados, só tiveram alta hospitalar no domingo.
Domingo, 18h20h: os homens de Bin Laden saem do hospital e chegam perto do estádio do Maracanã. O Flamengo acabara de perder para o Paraná Clube, por 6x0. A torcida rubro-negra confunde os terroristas com integrantes da galera adversária (que havia ido de Kombi ao Rio) e lhes dá uma surra sem precedentes. O chefe da torcida é um tal de "Pé de Mesa", que abusa sexualmente deles
.
Às 19h45m, finalmente, são deixados em paz, com dores terríveis pelo corpo, em especial na área proctológica. Ao virem uma barraca de venda de bebida nas proximidades, decidem se embriagar uma vez na vida (mesmo que seja pecado, Alá que se foda!). Tomam cachaça adulterada com metanol e precisam voltar ao Miguel Couto. Os médicos também diagnosticam gonorréia no setor retofuricular inchado (Pé de Mesa não perdoa!).
Segunda-feira, 23h42m: os dois terroristas fogem do Rio escondidos na traseira de um caminhão de eletrodomésticos, assaltado horas depois na Serra das Araras.
Desnorteados, famintos, sem poder andar nem sentar, eles são levados pela van de uma Ong ligada a direitos humanos para São Paulo. Viajam deitados de lado. Na capital paulista, perambulam o dia todo à cata de comida.Cansados, acabam adormecendo debaixo da marquise de uma loja no Centro.
A Polícia Federal ainda não revelou o hospital onde os dois foram internados em estado grave, depois de espancados quase até a morte por um grupo de mata-mendigos. O porta-voz da PF declarou que, depois que os dois saírem da UTI, serão recolhidos no setor de imigrantes ilegais, em Brasília, onde permanecerão até o Ministério da Justiça autorizar a deportação dos dois infelizes, se tiver verba, é claro.
Os dois acabaram por considerar desnecessário o terrorismo no Brasil e irão sugerir um convênio para realização, no Rio e São Paulo , de treinamento especializado em caos social para o pessoal da Al Qaeda.

terça-feira, novembro 22, 2005

OS ESTIGMAS E SEUS PERIGOSOS EFEITOS

Todos sabemos as consequências dos estigmas: humilham, rotulam e quase sempre fazem os seus alvos passarem por situações complicadas e, às vezes, bizarras. Foi o que aconteceu com uma amiga minha. Olhem só em que "fria" a menina se meteu:
Trabalhando em uma autarquia federal, essa pessoa teve que ser transferida de Recife para o Rio de Janeiro (ai, que inveja!) por força das circunstâncias, já que o seu noivo, agora marido, morava na Cidade Maravilhosa e não tinha como se mudar pra cá. Acontece que a dita cuja morava aqui, mas era natural de uma cidadezinha do interior da Paraíba, o que tornava o seu sotaque nordestino ainda mais arrastado e inconfundível.
No primeiro dia de trabalho na nova cidade, ainda muito reticente quanto à aceitação da mudança radical em sua vida e muuuuuuuuuuuuuito insegura em andar sozinha, não só por não conhecer a cidade, como, também, pelas incontáveis histórias de violência urbana que sabia acontecerem cotidianamente ali, lá foi ela, se investindo de coragem, pegar o ônibus que a levaria ao local de trabalho, não sem antes ter repassado várias vezes o itinerário, incluindo o número do coletivo, a rua em que deveria apanhá-lo, etc... exaustivamente explicado pelo maridão, que estaria viajando justamente nesse dia, razão porque não poderia acompanhá-la.
Filha única de uma viúva de quem jamais se afastara em toda a sua vida, havia levado pra morar consigo a sua mãe que, vendo a angústia da filha em enfrentar o novo desafio, ficou em casa, rezando e zelando para que nada de mal lhe acontecesse ... um verdadeiro drama, aquele primeiro dia!
Já dentro do ônibus e sentindo-se um pouco mais aliviada, pensou consigo: "Até aqui, ajudou-me o Senhor!". À medida em que a condução ia ficando superlotada e as pessoas iam se comprimindo mais e mais, ela começou a sentir-se incomodada pela proximidade de um passageiro que, dividindo consigo um pequeno espaço na trave de apoio, no interior do ônibus, onde só cabia uma das mãos (porque não haviam conseguido lugares sentados, como tantos outros), roçava o seu braço no dela, o que a fez "olhar de banda", com a cara mais amarrada que o mal-estar lhe permitia. Foi então que aconteceu o que ela tanto temia: Ao dirigir o olhar àquele incômodo braço (que, segundo ela, mais parecia uma coxa, tão grandalhão era), viu uma coisa que a fez tremer nas bases e a encheu de fúria: Ali, no pulso do brutamontes, vislumbrou o seu lindo e amado relógio de ouro, presente de casamento do seu apaixonado marido! Ah, não! Isso não poderia ficar assim! Jamais iria permitir que aquele descarado meliante saísse dali, impune, levando o seu bem mais precioso, enquanto ainda se dava ao desplante de exibí-lo, como que a desafiá-la a protestar!
Sem pensar duas vezes, aproximou-se ainda mais do cara (um negão de quase dois metros de altura e uns 95 quilos, em contraponto ao seu 1,5m. de altura e quarenta e cinco quilos) e lhe disse, baixinho, com um sotaque mais carregado do que os de personagens nordestinos de novelas globais: "Olhe aqui, seu fí de rapariga, seu puto, eu não estou brincando, não! Passe pra cá o relógio, discretamente, se não você vai ver o que é que vai lhe acontecer! Você não sabe quem sou eu ... se você não fizer o que eu digo, vai haver um escândalo neste ônibus, que ninguém jamais viu ... e tem mais: eu sou da Paraíba! Não brinque comigo não!
Ato contínuo, o negão tirou o relógio do pulso e entregou-o à minha amiga, apressando-se em descer na próxima parada e sumiu, no meio da multidão, olhando pra trás, apavorado.
Depois do expediente na repartição, aonde conheceu os novos colegas, que lhe deram as boas vindas, deixando-a completamente à vontade (como é praxe nos cariocas), volta ela pra casa e, assim que vai entrando, vai logo contando pra a sua mãe como foi o seu dia, incluindo no relato o ocorrido no ônibus. Quando acaba a narração, sua mãe lhe olha, espantada, dizendo: "Mas, minha filha, você esqueceu o seu relógio no criado-mudo! Foi a primeira coisa que notei ao arrumar o seu quarto!" E, ela, com as duas mãos na cabeça, horrorizada, constatou a terrível verdade: "Mamãe, eu roubei um homem no meu primeiro dia de trabalho! Logo eu, que tanto temia ser vítima da violência do Rio de Janeiro!!! ... e caiu num convulsivo e desesperado choro.
Esta história é um exemplo do que pode fazer um estigma. É proverbial no Brasil o uso da peixeira pelos nordestinos, daí porque o infeliz negão, não só entregou o seu relógio de ouro àquela baixinha invocada, como, ainda, saiu correndo do ônibus, temendo pela própria vida ante suas ameaças.
Do mesmo modo, o rótulo de cidade violenta atribuído ao Rio de Janeiro fez com que uma decente funcionária pública, recém-chegada à cidade, corresse o risco de ser presa por assalto, pra dizer o mínimo, no seu primeiro dia de trânsito numa metrópole. É mole?

sexta-feira, novembro 18, 2005

MEMÓRIAS DE UM MARIDO "TRAÍRA"

Esta me foi contada pelo meu irmão, Marcílio:
Um amigo dele, boêmio e mulherengo de carteirinha, porém casado, vez em quando "aprontava", entregando-se a homéricas farras, o que fazia a infeliz consorte(?) se descabelar e viver no seu encalço sempre que podia.
Em mais uma de suas noites de orgia, depois de tomar todas com colegas de trabalho num pouco recomendável barzinho da periferia, cada um arranjou uma parceira e saíram em caravana pra a beira-mar, com dois casais em cada carro, com a "inocente" finalidade de ver "corrida de submarino" (isso aconteceu num tempo em que essa prática não significava, ainda, um risco de vida). E foi um tal de pernas, braços e cabeças a se engalfinharem naquele pequeno espaço ... uma verdadeira promiscuidade!
Ao raiar o dia, viram, horrorizados, que haviam extrapolado o limite do horário de chegar em casa ainda com uma desculpa razoável e, desfazendo-se das suas parceiras, rumaram pros seus lares, cada um a "bolar" uma justificativa impossível pra aquele execrável ato.
Tendo deixado o amigo no caminho, o sujeito em questão, ao aproximar-se da sua casa, vislumbrou o seu mais temível pesadelo: Lá estavam, alinhadas que nem meio-fio, sua esposa e ninguém menos que a sua terrível sogra, contumaz desafeta, que nunca entendeu o porquê da filha ter escolhido semelhante cafageste pra marido, quando havia tido tantos pretendentes tão mais aceitáveis antes dele. De longe, o cara já viu o que o aguardava: As duas, de "mãos nos quartos", balançando uma das pernas, com aquelas caras de quem está prestes a explodir (só faltava o fatídico rodo nas mãos). Dentre todos os impropérios que ouviu, enquanto fechava o carro, só uma frase o fez estremecer: "Vamos chegar atrasadas no casamento!" ... Foi aí que ele lembrou: Logo mais, às 09:00 horas, o casal estava escalado para apadrinhar o casamento de uma das irmãs da esposa! E o evento iria se realizar numa cidadezinha a uns 200 km dali!
O miserável quis morrer! Com aquela ressaca, aquele gosto de brecha de tamborete e de cabo de guarda-chuva na boca, um sono de matar! E ainda tinha que estar lindo e loiro, todo engravatado, em um recinto em que estaria presente toda a família dela (que, não por acaso, não o via com bons olhos)! ERA A MORTE!
Aproveitando-se da exiguidade de tempo, passou pelas duas feito uma bala, sem dar a mínima satisfação, entrou no chuveiro, arrumou-se todo e entrou no carro, onde as duas já haviam se aboletado, pensando na desagradável cantilena que iria escutar durante todo o percurso. Começou a tentar desenvolver velocidade, mas sentiu alguma coisa impedindo o acelerador de abaixar até o máximo. Foi aí que ele petrificou: Ao dar uma espiada pra baixo, vislumbrou um sapato de mulher! Pronto. Estava perdido! Como defender-se do indefensável, agora que aquele inanimado objeto, silenciosamente, "entregava" sua abominável traquinagem?
Como todo bom malandro, logo teve uma idéia: Inventou que o carro estava apresentando um problema, diminuiu a marcha, abriu a porta, fingindo olhar o pneu traseiro e arremeteu no acostamento a prova do crime. Oh! Que alívio! Agora podia seguir a viagem sem mais atropelos que não o blá, blá, blá daquelas duas!
Chegou à igreja a tempo de ver que o carro que conduzia a noiva ainda adentrava o pátio. Apressado, dirigiu-se à entrada lateral, quando viu que as suas companheiras de viagem sequer haviam ainda saído do carro ... "Ora, bolas" - resmungou - "Essas duas com tanta pressa e ficam ali, só falando mal de mim". Voltou, já com ares de quem ia repreendê-las pela demora, mas parou e deu meia-volta, rindo cínicamente entredentes, quando ouviu o seguinte diálogo:
- Mamãe, é claro que a senhora esqueceu! Como é que o seu sapato poderia sumir daqui, se a senhora nem saiu do carro???
- Minha filha, eu num tô doida, não ... me responda como é que eu iria me arrumar todinha e calçar um sapato só, sem notar a falta do outro pé? Isso é um fenômeno inexplicável! E agora, como é que eu vou entrar na igreja?
A partir desse dia, toda vez que se junta com os amigos o safado é instado a contar essa história, que mais parece uma piada, razão porque resolví postá-la aqui.

segunda-feira, novembro 14, 2005

NOVA ORTOGRAFIA "ORKUTEIRA"


Desde que fui apresentada à nova febre nacional, o ORKUT, comecei a temer pelo futuro da nossa língua-pátria, que, ao meu ver, corre o sério risco de extinguir-se nas teclas dos PC's da vida. Recebo recados num idioma tão exdrúxulo, que às vezes tenho que recorrer ao meu filho para interpretá-los, já que, via de regra, me são enviados por jovens da sua idade. O mesmo acontece quando leio os variados tópicos das comunidades visitadas. Não pretendo ser alarmista, mas não consigo deixar de observar isso com uma certa apreensão.
Lembro-me do tempo em que conviví com jovens estagiários na empresa em que trabalhei, os quais costumavam produzir textos tão absurdos que eu me recusava terminantemente a assiná-los. Resultado: Acabavam me sobrecarregando de trabalho, porque jamais lhes delegava tarefas que exigissem a grande façanha de escrever, por mais simples e menor que fosse o texto... era um tal de "perca de documentos", ou "desculpe o lapes" (aí encerrando um pedido de desculpas por um lapso cometido), sem contar com os infinitivos sem o "r" no final, emprego dos "s", "ss" e "ç" sem o menor compromisso com a ortografia convencional, etc...
A propósito deste tema, recebí uma mensagem enviada pelo meu querido sobrinho, Artêmis (um beijo, meu lindo!) cujo autor, não identificado, faz uma previsão bem humorada de como estarão as redações após a Era da Informática, a qual transcrevo abaixo:
REFORMA ORTOGRÁFICA
Eis aqui um programa de cinco anos para resolver o problema da falta de autoconfiança do brasileiro na sua capacidade gramatical e ortográfica. Em vez de melhorar o ensino, vamos facilitar as coisas, afinal,o português é difícil demais mesmo. Para não assustar os poucos que sabem escrever, nem deixar mais confusos os que ainda tentam acertar, faremos tudo de forma gradual.
No primeiro ano, o "Ç" vai substituir o "S" e o "C"sibilantes, e o "Z" o "S" suave. Portanto:
Peçoas que açeçam a internet com freqüênçia vão adorar, prinçipalmente os adoleçentes. O "C" duro e o "QU" em que o "U" não é pronunçiado çerão trokados pelo "K", já ke o çom é ekivalente. Iço deve akabar kom a konfuzão, e os teklados de komputador terão uma tekla a menos, olha çó ke koiza prátika e ekonômika.Haverá um aumento do entuziasmo por parte do públiko no çegundo ano, kuando o problemátiko "H" mudo e todos os acentos, inkluzive o til, seraum eliminados. O "CH" çera çimplifikado para "X" e o "LH" pra "LI" ke da no mesmo e é mais façil. Iço fara kom ke palavras como "onra" fikem 20% mais kurtas e akabara kom o problema de çaber komo çe eskreve xuxu, xa e xatiçe.Da mesma forma, o "G" ço çera uzado kuando o çom for komo em "gordo", e çem o "U" porke naum çera preçizo, ja ke kuando o çom for igual ao de "G" em "tigela", uza-çe o "J"pra façilitar ainda mais a vida da jente. No terçeiro ano, a açeitaçaum publika da nova ortografia devera atinjir o estajio em ke mudanças mais komplikadas serão poçiveis. O governo vai enkorajar a remoçaum de letras dobradas que alem de desneçeçarias çempre foraum um problema terivel para as peçoas, que akabam fikando kom teror de soletrar. Alem diço, todos konkordaum ke os çinais de pontuaçaum komo virgulas dois pontos aspas e traveçaum tambem çaum difíçeis de uzar e preçizam kair e olia falando çerio já vaum tarde. No kuarto ano todas as peçoas já çeraum reçeptivas a koizas komo a eliminaçaum do plural nos adjetivos e nos substantivos e a unificaçaum do U nas palavras todas ke termina kom L como fuziu xakau ou kriminau ja ke afinau a jente fala tudo iguau e açim fika mais faciu. Os karioka talvez naum gostem de akabar com os plurau porke eles gosta de eskrever xxx nos finau das palavra mas vaum akabar entendendo. Os paulista vaum adorar. Os goiano vaum kerer aproveitar pra akabar como D nos jerundio mas ai tambem ja e eskuliambaçaum.No kinto ano akaba a ipokrizia de çe kolokar R no finaudakelas palavra no infinitivo ja ke ningem fala mesmo e tambem U ou I no meio das palavra ke ningem pronunçia komo por exemplo roba toca e enjenhero e de uzar O ou E em palavra ke todo mundo pronunçia como U ou I, i ai im vez di çi iskreve pur ezemplu kem ker falar kom ele vamu iskreve kem ke fala kum eli ki e muito milio çertu ? os çinau di interogaçaum i di isklamaçaum kontinuam pra jente çabe kuandu algem ta fazendu uma pergunta ou ta isclamandu ou gritandu kom a jenti e o pontu pra jenti sabe kuandu a fraze akabo.Naum vai te mais problema ningem vai te mais eça barera pra çua açençaum çoçiau e çegurança pçikolojika todu mundu vai iskreve sempri çertu i çi intende muitu melio i di forma mais façiu e finaumenti todu mundu no Braziu vai çabe iskreve direitu ate us jornalista us publiçitario us blogeru us adivogado us iskrito i ate us pulitiko i u prezidenti olia ço ki maravilia.

domingo, novembro 13, 2005

MULHERES ... COMO ENTENDÊ-LAS?

Vá entender as mulheres ...

Há muito tento entender o que se passa nas cabeças das mulheres. Por que será que a maioria delas perde completamente a noção de dignidade, amor-próprio, auto-estima, ou seja lá o que isso for, pra ter consigo um homem, não importando quem seja o cara?

Conheço algumas que mereciam ser objeto de estudo, tais as situações ridículas e absolutamente incompreensíveis ao meu parco entendimento às quais se expõem para preservarem consigo o "privilégio" de uma companhia masculina, quase sempre sem qualquer reciprocidade de interesses.
Nada tenho contra a relação homem-mulher, muito pelo contrário! Sou mulher e adoro sê-lo; gosto muito de homem, mas ainda considero que a recíproca tem que ser verdadeira. Jamais estive com um homem só pra não estar sozinha, porque "eu me amo, me adoro e não consigo viver sem mim", como diz a canção popular. Ainda me dou ao luxo de ser qualitativa, embora, na minha idade, a tendência seja o quantitativo ... talvez, por isso, não tenho ninguém, é certo, mas o bom é que mesmo assim me sinto inteira e bem resolvida, já que a essa altura do campeonato as "mancadas" seriam imperdoáveis e eu não me permitiria mais arriscá-las ... nem pensar! Imaginem eu, uma vovó, sofrendo desilusões amorosas ...(que, certamente, viriam) patético!

Mas cá estou eu tergiversando, só pra falar sobre um assunto que tem me deixado "encafifada", como se diz por aqui. Negó seguin:

Ví uma reportagem num desses programas televisivos sobre uma reivindicação que está fazendo um sujeito abominável, um monstro, um ser absolutamente desprezível, que não é outro senão o tragicamente famoso "Maníaco do Parque" ... aquele que torturou, estuprou, matou e até comeu (no sentido lato) partes dos corpos de nada mais, nada menos que 11 (onze!) mulheres. Pois essa pústula está tentando conseguir da justiça(?) o direito de ter "encontros íntimos" na prisão com uma vagabunda com quem se casou por procuração. E sabem por quê? Porque ele quer ter filhos, pasmem, senhores!!!

Daí veio a notícia que me deixou assim, revoltada: Esse sujeito não só recebe cartas de mulheres que se dizem apaixonadas por ele, na prisão, como até casou com uma delas! Mas aí vem a bomba: A infeliz tem 60 (sessenta!) anos e está disposta a se submeter a tratamentos mil para dar a ele a alegria e a felicidade de procriar ... Pooooooooooooooooooooooode???

Alguém pode me explicar o que se passa na cabeça dessa mulher?
Alguém, por mais humano e benevolente que seja, pode concordar com a idéia de que um animal desses venha a ter o sagrado direito de ser pai?
E às mulheres, jovens e cheias de saúde que ele matou, foi dado esse direito?
Que nível de carência pode levar uma criatura a querer manter relações com um ser abjeto desses?
Não! Definitivamente, eu ME NEGO a ser complacente com essa vadia! Não há NADA que ela argumente que venha a me convencer de que essa vagabunda tenha qualquer razão. Senão, vejamos:
Nunca houve convivência entre eles, porque somente se conheceram através de correspondências;
Não pode ser carência, porque esta jamais será satisfeita, já que o desgraçado está condenado a mais de 40 anos e, portanto, quando sair, SE sair, ela já deverá ter passado desta pra melhor (com a graça de Deus! - já vai tarde!);
Uma vez que os seus crimes são considerados hediondos, ele não tem o direito às visitas íntimas ... no máximo, quem sabe, pode aparecer um daqueles detentos do tipo "Trivelatto" que lhe faça a caridade (de preferência, de forma mortal) e, aí, sim, a justiça será feita!!!

Pois é, gente ... pode alguém entender as razões dessa vadia (nem vou chamar de mulher, pra não desonrar ainda mais o nosso gênero)?

O pior é que nada nos assegura que esse direito lhe será negado, já que o nosso Judiciário, como os outros dois poderes, não é confiável. Taí a realidade, que não nos permite sonhar com justiça:
Suzane Richentofen(é assim que se escreve o nome daquela vaca?) e os irmãos Cravinhos, assassina intelectual e executores dos pais dela, estão em liberdade;

Ao juiz federal cearense, que matou um vigilante num supermercado em Fortaleza, ao vivo e a cores flagrado por uma câmara de vídeo, porque este, cumprindo o seu dever, ousou querer proibí-lo de adentrar a loja depois do expediente encerrado, foi concedida uma gorda aposentadoria;

Guilherme de Pádua e a sua dileta esposa, matadores da atriz Daniela Perez, estão livres e isentos de qualquer mácula após alguns poucos anos de prisão;

Paulo Maluf e seu filhinho querido estão no recesso do seu lar, dando risadas e usufruindo do nosso rico dinheirinho (pra eles), depositado em bancos no exterior ...

São tantos os exemplos que tem dado a nossa "justiça", segundo a qual cada brasileiro tem o direito legal de tirar pelo menos uma vida (V.Lei Fleury), que não me surpreenderá a eventual notícia de que o "Maníaco do Parque" venha a ser bem sucedido no seu intento.

Lamentavelmente ...

quarta-feira, novembro 02, 2005

HOMENAGEM AOS FINADOS

Sem inspiração para discorrer sobre qualquer assunto, deixo aqui a minha homenagem aos nossos entes queridos que já partiram, utilizando-me de um poema do incomparável Pablo Neruda:


SAUDADE

"Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,mas o amado já ...
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida ...
Saudade é sentir que existe o que não existe mais ...
Saudade é o inferno dos que perderam,é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam ...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter porquem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido ..."

Neruda

terça-feira, novembro 01, 2005

MAIS UMA DE MÔNICA

Alguns aqui já conhecem Mônica, minha ex-assistente doméstica que era, à época em que convivemos (há muito não tenho notícias suas), o protótipo da inocência e do despreparo em matéria de vida social. Apesar disso, tinha uma disposição imensa para o aprendizado e estava sempre me questionando a respeito das coisas que não entendia. Enquanto morou comigo, protagonizou situações ora divertidas, ora emocionantes, as quais, vez em quando, vou relatar pra vocês. Numa delas, já contada aqui, ela mastigou a hóstia consagrada sem ter a menor idéia do que aquela "bolachinha" (palavra dela) pudesse vir a ser e se auto-flagelou semanas a fio, quando eu lhe expliquei do que se tratava; pois bem, esta história aqui não é menos bizarra, posso lhes assegurar:

Na época do vídeo-cassete eu costumava locar filmes diariamente e Mônica sempre me fazia companhia, embora não entendesse patavina do que estava assistindo porque, segundo ela, não compreendia como é que eu conseguia entender o que "aqueles hômi falava". Obviamente, o áudio em inglês tornava impossível pra ela acompanhar o desenrolar das tramas. Foi então que eu lhe expliquei que somente através da leitura das legendas isso seria possível e que o fato de ser analfabeta a descredenciava dessa façanha, aproveitando, também, para lhe fazer entender a importância de saber ler. Observando, porém, que ela continuava muito confusa, usei esta expressão: "Tá vendo essas letrinhas aí, na tela? Pois eu só entendo o que eles falam porque as leio e, como você ainda não sabe ler, não pode interpretá-las, compreendeu?" Pronto. Santo remédio pra que ela nunca mais voltasse a me questionar a respeito.

Nas férias de l988, minha irmã e eu resolvemos ir veranear numa praia próxima a Maceió, junto com nossos filhos, e, é claro, as respectivas babás (que ninguém é de ferro!). Ficamos num condomínio fechado aonde havia muitos turistas estrangeiros e lá um dia, quando almoçávamos no restaurante do balneário, observei que Mônica não conseguia se concentrar na refeição, interessada que estava em ouvir atentamente a conversação dos nossos vizinhos de mesa. Como já estava dando a maior bandeira (porque ela estava, literal e inconvenientemente, com o ouvido colado na boca de um cidadão muito distinto que havíamos conhecido o qual, na ocasião, hospedava uns amigos seus, americanos), repreendí-a, fazendo-lhe ver que aquela atitude era absolutamente intolerável, pela indiscrição de que se revestia. Foi aí que ela me saiu com essa:

- Ô, D. Regina, cuma é que Sêo Fulano (referindo-se ao nosso novo amigo) entende o que esses hômi tão dizeno? Detalhe: Mônica era gaga e isso me custou uns cinco minutos esperando o término da pergunta.
- É porque ele fala inglês, que é a língua dos seus hóspedes - respondí. E aí ela soltou esta "pérola":
- E ... e... e... (gaguejando) e cuma eu num tô veno as letrinha?!!!

Gente, a minha irmã ficou tão estarrecida com aquela pergunta, que começou a chorar de dó dela, tal a ingenuidade ali encerrada.

Claro que não deu pra rir, na hora, por uma questão de respeito à sua involuntária ignorância, mas que foi engraçado, lá isso foi!