quarta-feira, outubro 05, 2005

A VINGANÇA DO TAXISTA

Sempre ouví falar da proverbial preferência dos homens pelas mulheres que os traem e, por isso, se tornam indeléveis nas suas memórias como uma situação mal resolvida que eles, na sua machice, não conseguem digerir e alimentam, em suas fantasias, a necessidade de "passar a limpo". Alguns, até, vão ao extremo de matar as suas caras-metades por havê-los desaprovado como parceiros, quer emocional, quer sexualmente, ou sabe-se lá em que sentido ...
Conhecí um desses espécimes na época em que estava esperando a chegada do meu filho, mas, confesso, nunca imaginei que um tipo daqueles pudesse sair do papel de protagonista de piadas. O sujeito era o propriamente dito "CORNO CONFORMADO", deixando transparecer, até, uma certa satisfação masoquista pela sua inusitada condição. Foi assim:
Quando atingí o oitavo mês de gestação, a minha barriga era uma coisa descomunal em proporção à minha altura, que não chega a 1,55m., razão porque o médico me proibiu de dirigir o carro, pois, tendo pernas muito curtas, era necessário trazer o banco do motorista até o mais perto do volante possível e, com isso, o barrigão ficava comprimido naquele curto espaço físico, o que poderia tornar as viagens desconfortáveis tanto pra mim, como para o bebê. Até tentei ir trabalhar de ônibus, mas quase morrí de vergonha quando fiquei presa na catraca e tive que descer pela mesma porta que entrei, ouvindo do cobrador: "Motorista, abre a porta da frente que vai subir uma buchuda!"
Essa experiência me fez contratar um taxista pra me transportar de ida e volta ao trabalho até que chegasse o "grande dia". Foi aí que conhecí aquela figura!
Todos os dias o homem tinha um episódio de traição da sua mulher pra me contar, enquanto sacava um monte de papel do porta-luvas pra me mostrar quantas vezes esteve envolvido em brigas e contendas que acabavam em delegacias, por lesões corporais que ele produzia nas inúmeras pessoas que o taxavam de "Corno" - pra provar o quanto defendia a sua santa esposa das maledicências dos vizinhos. Até que um dia, ele resolveu seguí-la e foram tantos e tão bizarros os episódios que vivenciou, perseguindo-a aonde quer que fosse com o seu amante a tiracolo, que comecei a achar que o sujeito tava mais era curtindo aquele voyerismo. Uma das vezes ele me contou que se disfarçou, pondo uma peruca e óculos escuros e sentou-se bem atrás do casal num dos cinemas da cidade. Ficou horrorizado ao perceber que os dois não tinham ido até alí assistir ao filme em cartaz, já que nem por um momento dirigiram seus olhares à tela, ocupados que estavam em se acariciar e beijar muuuuuuuuuuuuito! Aqueles beijos mexeram tanto com o cidadão, que ele cuidou em chegar em casa mais cedo que a esposa-traíra, esperou-a pacientemente até vê-la transpor o limiar da porta e correu pra cima dela (disse ele, com muita fúria - o que me fez temer pela vida daquela Messalina), segurando-a pelos ombros, olhos nos olhos, falou assim: "Eu só quero uma coisa de você: que me dê um beijo daqueles que deu naquele cabra safado, no cinema"! E ela, é claro, não deu.
Eu pasmei! Pois aquele não era o homem que costumava "furar o bucho" dos que lhe desagradavam, com a mesma naturalidade com que acendia um cigarro? Bom, locubrações à parte, prossigamos:
Teve, também, uma ocasião em que o mal-amado marido postou-se defronte a um motel de beira de estrada (daqueles tipo "O sol nasceu pra todos" - acreditem, tem um motel na BR 232 com esse nome!) e esperou uma tarde inteira que os dois saíssem, só pra seguí-los até as proximidades de sua casa e contentar-se em assitir ao beijo de despedida - a porta do motel, trancada, não havia lhe dado chance de ver o que aconteceu lá dentro ... tsc,tsc, tsc ..."essa dúvida é que me mata" ... pensava ele.
Somente quando o homem, com a cara mais aborrecida do mundo, me perguntou o que é que eles tanto faziam ali, uma tarde inteira, argumentando que não precisava de tanto tempo assim pra fazer "aquilo", foi que eu vim a compreender as razões da mulher em ter optado por "outros pastos". TINHA que haver algum motivo!
Mas o melhor da história foi o desfecho: Cansada de "dar bandeira", a mulher, percebendo que suas escapadelas estavam muito mais satisfazendo o voyerismo do marido do que o magoando, resolveu "sartá fora" e lhe avisou que estava deixando a casa pra ir morar com o "pé-de-lã". Acontece que o casal tinha sete filhos e foi aí que o traído deu a monumental "volta por cima": No dia seguinte, dirigiu-se à nova residência da esposa com toda a filharada, chamou o "urso" na porta e desferiu-lhe o golpe fatal: "Estão aqui os nossos sete filhos, que eu trouxe pra você criar junto com essa vagabunda ... quem come a carne, amigo, rói o osso"! E deixou aquele "presente de grego" para o desafortunado casanova.
BEM FEITO! - diria, com certeza, a minha mãe.