domingo, outubro 23, 2005

RUÍDOS DA COMUNICAÇÃO

Os "ruídos" na Comunicação Social representam tudo o que possa atrapalhar a interação entre os indivíduos, a falta de clareza e de objetividade na mensagem que se deseja passar. Não! Não estou pretendendo dar uma aula sobre essa matéria, até porque seria como ensinar Pai Nosso a vigário, dado o alto nível de competência no assunto demonstrado pelos nossos queridos blogueiros, não só os que me visitam mais frequentemente, mas, também, aqueles que eu costumo visitar sem me pronunciar (eu faço isso, gente!), às vezes por falta de tempo .

Na verdade, isso foi só uma introdução pra contar mais um dos causos que vivenciei, desta vez como um dos protagonistas.

Numa certa tarde, em meados de 1975, estava eu debruçada sobre uma máquina de escrever (jurássico, esse episódio!), concentrada no texto que acabara de redigir, ao mesmo tempo em que pitava meu cigarrinho (nesse tempo ainda não era um pecado capital fumar no ambiente de trabalho), enquanto o zelador, um circunspecto senhor de meia-idade, sisudíssimo, de poucas conversas e tão humilde que jamais levantava a vista para um seu superior hierárquico (no caso, eu), tííííímido de desconcertar qualquer um que lhe dirigisse a palavra, varria a sala contígua à minha. De repente, numa atitude absolutamente inverossímil partindo de semelhante perfil, essa criatura me deixou sem fala ao me dirigir a seguinte frase:
- Dona Regina, quando a sinhora acabar aí, pro favô (sic), me dê o rabo!
Eu simplesmente parei; estupefacta, estarrecida, boquiaberta, perplexa, atônita, surpresa, pasma e um tanto quanto admirada. Depois de me refazer do
impacto causado por tamanho absurdo, perguntei:
- O Quêêêêê!!!?
- Eu dixe: quando a senhora acabar aí, pro favô, me dê o rabo!
- Sêo Nego, eu ouví o que o senhor falou, mas não estou acreditando nisso!
E ele: Tô pedino pra sinhora me dá o rabo, depoi ...(a essa altura, já de olhos no chão, como de costume). E eu, já de cenho franzido:
- Sêo Nego, o senhor quer me explicar o que é que está acontecendo aqui?
- Tô pedino pra sinhora me dá o rabo, quando não quiser mais ...

Enquanto eu matutava sobre a total improbabilidade de que, na mais remota ilação, um dia viesse a prescindir de tal parte da minha anatomia (mesmo que empregada no sentido figurado, atribuí a palavra "rabo", obviamente, à minha região glútea), um colega que a tudo assistia, tão surpreso quanto eu, correu em minha defesa:
- Ô, Sêo Nego, que falta de respeito é essa com Regina? O senhor tá pensando o quê? Eu lhe quebro no cacete, seu porra!

Foi quando o coitado, recompondo-se do vexame de ter levado aquele passa-fora, já gaguejando e tremendo de medo, explicou:
- Eu tô pidino pra ela me dar o rabo do cigarro antes de jogá-lo fora, só isso!

UFA! Diante de tão inocente explicação, enxuguei o suor da testa, suspirei aliviada e, pra coroar o final feliz do episódio, puxei um cigarro novinho em folha e lhe dei de presente. Foi o bastante pra ele sair, todo satisfeito, dando espaço pra que o meu defensor e eu explodíssemos numa gostosa gargalhada.

Isso é o que se pode chamar de RUÍDO DA COMUNICAÇÃO, é ou não é?

Bom domingo para todos e NÃO esqueçam de votar!