quarta-feira, setembro 14, 2005

IGREJA UNIVERSAL & AFINS S/A - Parte 1

Sempre me considerei uma pessoa tolerante para com as diferenças, fujo de preconceitos e respeito a liberdade de expressão, mas se tem uma coisa que não consigo assimilar, é o porquê de alguém levar a sério esses falsos profetas que estão invadindo a programação de rádios e TV com promessas de loteamento garantido lá no céu (?). Como pode alguém acreditar no que esses caras falam? O que é que leva multidões a lotarem essas "igrejas" que proliferam aos montes em todos os recantos do mundo? Ontem, tentando driblar uma insônia que insistia em se estabelecer, comecei a procurar algo pra me distrair na TV local (depois de desistir de tentar a banda larga, que só apresentava as mesmas enfadonhas reprises), chamou-me a atenção o choro de uma mulher, que falava ao telefone com um pseudo bispo(?). A tal fulana reclamava de uma dor de cabeça histórica, que atormentava não só a si, como a toda a sua família, pois ela estava a ponto de pirar. Foi aí que o "bispo" lhe recomendou que pusesse a mão aberta sobre a telinha, enquanto ele fazia o mesmo sobre a lente da câmera e, num gesto brusco de quem "catou" o invisível, cerrou os olhos, balbuciou algumas palavras e "jogou fora" o que tinha apanhado; Daí, com a maior cara-de-pau, perguntou à interlocutora "cadê a sua dor de cabeça, fulana"? E ela: "foi embora ... como é que o senhor conseguiu"!!!? Então o "bispo", com uma cara de quem está pensando: "tsc, tsc, tsc" ... sorriso amarelo nos lábios, falou assim: " Não fui eu, querida"! Foi o Senhor Jesus! ato contínuo, a multidão irrompeu numa gritaria apoteótica: ALELUIA! ALELUIA!
Depois dessa, claro que eu me neguei a testemunhar semelhante enganação, desliguei a TV e fui contar carneirinhos, né?
Esse episódio me fez lembrar um dos testemunhos mais eloquentes do que se passa nos bastidores daquela mis-un-cénne(é assim que se escreve?), que passo a contar pra vocês:
O marido de uma amiga, minha aparentada, sofreu um AVC (Acidente Vascular-Cerebral) e ficou temporariamente paraplégico; Depois de muitas sessões de fisioterapia, já conseguia, timidamente, se levantar da cadeira de rodas em que passara a se locomover e, gradativamente, foi recuperando os movimentos. Ocorre que ele é um homem muito ensimesmado, taciturno e de poucas conversas e, por isso, não havia, ainda, deixado transparecer as melhoras conquistadas; desta forma, somente a esposa sabia daquele seu progresso, ignorado até pelos filhos e uma nora que com eles convivia. A tal nora, à época, havia se convertido (ou será "pervertido"?) a seguidora da Igreja Universal do Reino de Deus (razão porque, logo depois, veio a se separar do marido, que relutava em aceitar a sua transformação).
Uma noite em que se encontrava a sós com o sogro, a "nova crente", apesar de todas as advertências da sogra, marido e cunhados, de que nunca deveria fazê-lo (pois ela vivia insistindo na idéia de que o seu "pastor" teria o dom de curar o enfermo) e ignorando o fato de que o cidadão já conseguia levantar-se da cadeira de rodas, sem ajuda, "enfiou" o pobre coitado dentro de um táxi e rumou para a sua "igreja". Foi então que, no dia seguinte, a minha amiga-meio-parente estava num supermercado e encontrou uma vizinha, que a abordou, felicíssima, cumprimentando-a pelas melhoras do seu esposo, a quem tinha visto na televisão e assistido levantar-se da fatídica cadeira de rodas.
- Ãh? o meu marido, na televisão?!!!
- Pois é. Fiquei muito contente de ver como o pastor o fez levantar-se.Parabéns!
Aquilo era demais! Minha amiga, já entendendo o que se passara, voa pra casa pra abordar o marido, indignada:
- Zé, que história é essa que você esteve na Igreja Universal?
- É ... fulana me levou e eu fiquei muito puto, porque não sabia pra onde estava indo!
- E esse negócio do tal pastor ter lhe curado? Como foi isso?
- Ah! Foi o seguinte: Quando cheguei lá, já havia uma multidão, formando um corredor, desde a calçada... eles vieram, me tiraram do carro e um deles foi conduzindo-me, na cadeira, até a frente de um palco, onde tinha um homem, de pé, com um microfone, falando um monte de coisa que eu não entendí. Nem sabia, na verdade, aonde estava ... foi aí que aquele homem caminhou até a mim, pôs a mão na minha cabeça e começou a gritar: LEVANTA! LEVANTA! LEVANTA! ... Junto com ele, de repente, a multidão inteira fez coro: LEVANTA! LEVANTA! LEVANTA! ... aí eu fiquei com vergonha de continuar sentado (porque eu era o único sentado, nesse momento) e me levantei. Foi só isso! Eu só não entendí porque todo mundo, em uníssono, passou a gritar: MILAGRE! MILAGRE! MILAGRE!
Nem precisa dizer que, no dia seguinte, a minha amiga-meio-parente mandou a nora fazer as trouchas e se mandar, né?

Aguardem Igreja Universal & Afins S/A - Parte 2