terça-feira, dezembro 09, 2008

DE QUANDO APRENDÍ A INTERPRETAR TEXTOS (OU ADEUS ÀS ILUSÕES)



Estamos em plena época de Natal e isso me faz reportar-me ao meu post anterior, no qual falei sobre as inverdades (algumas "cabeludas") que nos contavam e que instigavam o nosso imaginário infantil. Papai Noel foi a maior delas e tudo o que ficou na minha memória foi a frase "...EU PENSEI QUE TODO MUNDO FOSSE FILHO DE PAPAI NOEL..." Eu, definitivamente, não era! Cansei de deixar bilhetinhos pra esse velhinho fdp, que jamais os lia e nem sequer dava uma satisfação qualquer. Acho que era porque não tinha argumento algum pra sua indiferença, pois fui uma menininha muito bem comportada, estudiosa, obediente e imperdoavelmente crédula.
Tá certo que, não sendo nenhuma divindade reencarnada, quando algum castigo ou obrigação atribuída não me agradava ou me parecia injusto, eu batia o pé, estirava a língua e dava um monte de rabissaca* e de muxôxo**, não sem antes ter o cuidado de me trancar a sete chaves pra que ninguém (nem meus irmãos, um bando de dedo-duro) percebesse aquele ato de rebelião silenciosa, porque aí seria bem pior: Certamente o castigo seria mais ...contundente, digamos assim. Vai ver aquele velho escroto tava me brechando de lá do Pólo Norte, não sei com que visão de raio-X dos infernos e, por isso, fazia "vista grossa" pros meus bilhetinhos patéticos! EUREKA! Acabo de descobrir a causa de tão cruel descaso... DEMORÔ!


Ainda bem que a minha credulidade na existência desse senil sacripanta se dissipou assim que eu comecei a prestar atenção nas mensagens contidas nas letras das músicas que ouvia e essa frase supracitada me abriu os olhos. "É isso (pensei)! ... Esse Papai Noel aí só considera seus os filhos das pessoas mais abastadas, já que de todos os meus amigos e amigas somente aqueles cujos pais têm grana ganharam presentes dele e, se ele não me considera sua filha, eu é que não vou tê-lo na conta de pai ... Que se foda, então!


A favor dele, no entanto, devo dizer que me ensinou uma lição valiosa que até hoje trago comigo e cuja aplicação nunca deixou de funcionar: Não sofrer pelo desamor de alguém, nem me martirizar por um cerumano qualquer que não me ame como eu mereço. É bem verdade que antes de aprender isso experimentei a amarga sensação de querer quem não me quis (afinal, como diria Martinho da Vila, "Você não passa de uma mulher"), mas aí evoquei aquela velha decepção com o "Bom" velhinho e despachei esse querer na primeira encruzilhada, pondo em prática outra frase inesquecível, colhida, à época, nas páginas do livro "O MEU PÉ DE LARANJA LIMA" (que quase me matou de chorar, pela vulnerabilidade emocional que eu estava vivenciando, naquele momento) de grande valia pra minha cabecinha adolescente:

"A GENTE MATA COM O CORAÇÃO... VAI DEIXANDO DE QUERER BEM E, UM DIA, A PESSOA MORRE".

E morreu!


Infelizmente (ou felizmente, sei lá!), com isso morreu em mim, também, a capacidade de me iludir com o amor-romântico, no qual, hoje, não boto muita fé, a não ser naquele que já vem predestinado, com endereço certo e mediante conivência com o alinhamento dos astros, o popular "Escrito nas estrelas". Admito que seja muito raro, mas que lo hay, lo hay. AINDA BEM!



Vixe! Postezinho amargo, esse, hein, gente? Também, quem me mandou lembrar de Papai Noel?

FOI MAL!


*Rabissaca - Gesto de desdém, que consiste em jogar a cabeça pra cima, num safanão,
** Muxôxo- É o nome que se dá, no nordeste, àquele barulhinho próprio de "coçar a garganta"
A imagem, "Papai Noel malvado", é de: http//yuzuru.files.wordpress.com