segunda-feira, novembro 24, 2008

DARWIN TINHA RAZÃO




Estou cada vez mais convencida de que somos uma espécie em evolução, principalmente observando o comportamento das crianças de hoje e comparando-as com as da minha geração. Sou de um tempo em que havia uma verdade insofismável: PAI E MÃE NÃO MENTEM! Pra essa afirmativa não cabia qualquer questionamento e, fosse qual fosse o absurdo que ouvíssemos dos nossos genitores, tínhamos que aceitá-lo, mesmo não havendo possibilidade alguma de que aquilo correspondesse à verdade.


Parecíamos compactuar com as farsas que nos eram impostas e os pais não tinham qualquer receio de que, um dia, lá na frente, suas máscaras cairiam e nós os veríamos, fatalmente, como na realidade são: Apenas seres humanos cheios de falhas tentando forjar cidadãos que, por sua vez, mesmo desencantados, no futuro não só lhes perdoariam, como, até, lhes aplaudiriam, citando os seus exemplos, frustrados por não conseguirmos, junto aos nossos filhos, os mesmos resultados que obtiveram conosco.


Às vezes me pego pensando em como éramos ingênuos. A verdade estava alí, na nossa cara, mas não podia ser revelada nem, sequer, admitida, sob pena de sofrermos severos castigos, "como manda a Santa Madre Igreja". A perspicácia era punida, ao invés de incentivada. A mais marcante de todas, até hoje, na minha cabeça, foi "o conto da cegonha", que eu engolí durante tanto tempo e, o que é pior, nunca gastei um neurônio sequer tentando compreender por que meus irmãos e eu éramos obrigados a ficar do lado de fora da nossa casa, quer chovesse ou fizesse sol, vigilantes e atentos, esperando a malfadada ave pousar no nosso telhado, o que, obviamente, NUNCA acontecia. Até ouvirmos o estridente choro do bebê, quando voltávamos pra casa, sorumbáticos e frustrados, tentando entender como aquele pássaro filho da puta tinha conseguido burlar a nossa vigilância, adentrando a casa sem se fazer notar.


Aquela pantomima era levada tão a sério, que os meus pais até orientavam os irmãos mais velhos a se infiltrarem entre nós, os crédulos espectadores mirins, pra que jurassem ter visto a tal cegonha, o que nos deixava mais putos... "Eu juro que ví quando ela pousou lá na cumeeira" - dizia um: "Vocês não viram, não?" - perguntava outro ... E nós ficávamos ainda mais desencantados, pois tínhamos absoluta certeza de não termos tirado os olhos do espaço um segundo só. Que sacanagem!




É por essas e outras que às vezes tenho a impressão de que as crianças nasciam meio burrinhas, somente vindo a desenvolver a habilidade da inteligência ao longo do tempo (tsc, tsc, tsc ... Eu tenho que me defender, de alguma forma, né gente?). Nunca me esqueço do dia em que ví minha mãe lavando uma calcinha da minha irmã, suja de sangue e, eu, já em prantos, ao levantar a possibilidade de que ela tivesse contraído uma doença muito séria, a minha mãe saiu-se com essa: "NÃO, FILHA. ISSO AÍ NÃO É SANGUE, NÃO! É QUE EU DEIXEI ESSA ROUPA MUITO TEMPO QUARANDO E O SOL, MUITO FORTE, A QUEIMOU!".... E EU ACREDITEI!!!

Tá certo que o sol do nordeste é inclemente e causticante, mas, peraí, Mãe!


Fico pensando como seria se eu ousasse fazer isso com o meu filho ou, até mesmo, com a minha neta ... Era capaz de ser levada à justiça (por eles próprios, o que é pior!) por estar violando-lhes o sagrado direito à informação.


Daí a conclusão de que Darwin tava mais do que certo.




imagem: www.passeiweb.com