segunda-feira, novembro 10, 2008

ÔNIBUS LOTADO - TÔ FORA!



Definitivamente, pegar ônibus não é minha praia. Sabe aquelas coisas que você fala pra si mesmo "ISSO SÓ ACONTECE COMIGO"? Pois eu estou convencida de que essa frase deveria ser minha, principalmente quando relembro o tempo em que eu dependia dos coletivos urbanos pra me deslocar até o local de trabalho. Sim, porque eu jamais topei qualquer programa de lazer que envolvesse esse sacrifício, pelo menos aqui em Recife. É que eu passava tão mal nessas verdadeiras latas de sardinha, que por diversas vezes cheguei a chorar de desespero, acreditem!


Começou quando, recém-chegada à capital e morando temporariamente na casa de uma das minhas irmãs, no subúrbio, tive que trabalhar no centro da cidade. Não que eu já não tivesse experiência em labutar pra sobreviver, mas na minha cidade natal tudo era pertinho e a gente costumava ir a pé pra qualquer canto, mesmo os mais distantes, até porque lá não existia, então, essa invenção dos diabos que é o ônibus coletivo!


Quando ele vinha lotado era um verdadeiro horror pra mim, porque, do alto do meu metro e meio, jamais conseguia alcançar as barras do teto, o que me deixava vulnerável às violentas brecadas dos motoristas que pareciam se divertir com as minhas derrapadas por cima dos meus pares, muitas vezes com desfechos bizarros como o abrupto sentar no colo das pessoas que estavam acomodadas em suas poltronas, o que acontecia quase sempre.

Outra situação torturante era suportar o cheiro nauseabundo das pessoas, que exalavam toda sorte de mau-odor: Do suor dos sovacos ao já famoso "CC", passando pelos fétidos hálitos dos que conversavam acima de mim, além dos perfumes baratos que se misturavam àquele concentrado de fedor, tudo me incomodava. Logo eu, que tenho um olfato apuradíssimo! Pra aliviar um pouco, eu comecei a desenvolver uma técnica de prender a respiração até não suportar mais e, assim, conseguia diminuir a intensidade de tempo em que ficava à mercê desses odores, mas isso acabava me fazendo fazendo passar mal, pois os gases iam se acumulando e me causavam muitas dores no abdomen ... Um horror!


Afora tudo isso, ainda tinha aquelas pessoas de comportamento estranho, que ora faziam rir, ora metiam medo, como uma mulher enorme que, sentada junto de mim, tentou me forçar a seguí-la, segurando-me com força pra que eu não descesse do coletivo quando percebí a sua intenção, somente me soltando quando eu gritei por socorro e as pessoas a seguraram pra que eu conseguisse sair dali; lembro de outra senhora que começou a avaliar o meu peso em ouro, citando os preços de cada peça que eu usava: dos brincos ao par de meias finas!
Teve, também, uma ocasião em que estava acontecendo nada mais, nada menos, que uma partida de futebol dentro do coletivo, enquanto um monte de homens desocupados jogava carteado regado a uma garrafa de "caninha 51" e cujo tiragosto era um pacote de bolachas cream cracker. Lá atrás, um bando de crianças entoava, alto e bom som, o mais recente sucesso da Xuxa, naturalmente batucando o acompanhamento na lataria do carro ... Isso às 07:ooh da matina, gente!
Houve um dia em que um cidadão, com complexo de Caruso, danou-se a cantar bem alto no meu ouvido a música "FEELING", de Morris Albert. Só que, pro meu desespero, ele só sabia essa palavra, "feeling", que vem a ser, exatamente, a nota mais aguda da canção ... Então ela abria o bocão e gritava: 'FEEEEEELING ... Ô, Ô, Ô FEEEEEEEEEEEEEEEEEELING ..." E sofejava o resto da melodia... Daí a pouco lá vinha o grito: "FEEEEEEEEEEELING ... Ô, Ô, Ô FEEEEEEEEEEEEEELING ..." Essa tortura durou todo o percurso e eu cheguei em casa estourando de dor-de-cabeça, é claro!
Como não poderia deixar de ser, além dos tarados de todos os tipos deparei também com uma "tarada", que passou a mão em mim, apertando as minhas coxas e sussurrando "que pernas gostosas" no meu ouvido ... Ai, ai, ai ... Não prestou, não, porque eu descí do salto e, mesmo de mini-saia, mandei-lhe um chute na barriga, que ela sobrou lá num canto, enquanto um senhor idoso vibrava com o meu feito e me dava cobertura pra sair dalí, esbaforida e chorando de vergonha.
Mas o ápice da minha tolerância aconteceu, mesmo, quando um mendigo entrou no ônibus, de carona, aboletou-se na porta por onde todos tinham que passar ao descer, empreendeu um papo amigável com o motorista descontraidamente, chamando a atenção e os olhares de todos para si, inclusive o meu, que se esbugalhou horrorizado com o que ví: O homem portava, em seu ombro, o seu animalzinho de estimação, que ele dizia ser seu melhor amigo: Um tremendo ratão cinzento, que passeava, lépido e fagueiro, pelas suas costas, como se estivesse em qualquer esgoto do seu habitat!!! Claro que pra eu descer o sujeito teve que, muito a contragosto e dizendo impropérios mil, abrir caminho, se afastando do veículo a uma distância segura pra que eu saísse correndo.
Esta ocorrência marcou o fim da minha experiência como passageira, definitivamente.
É por isso que eu digo, sem medo de errar: ESSAS COISAS SÓ ACONTECEM COMIGO, PORRA! ÔNIBUS LOTADO, NUNCA MAIS!