terça-feira, julho 03, 2007

DANDO AS CARAS


Passado o impacto da "Semana de Cão" que viví entre os dias 25 e 30 últimos, volto aqui pra explicar o porquê do meu forçoso sumiço:


Logo na segunda-feira, pela manhã, fui surpreendida com um telefonema que me deixou aflita. Minha irmã mais velha havia sofrido um AVC - Acidente Vascular Cerebral e estava sendo socorrida num hospital local. Logo ela, que até então deixava a todos nós pasmos pela vitalidade e dinamismo que sempre foram a sua característica principal, agora encontrava-se sem os movimentos por todo o lado direito do corpo, sem fala, sem reconhecer ninguém e apresentando paralisia facial. Foi como uma bomba! Não foi e nem está sendo fácil conviver com essa realidade. Uma pessoa que vivia intensamente cada momento da vida como se fosse o último; que jamais dizia não a um convite pra uma boa farra, sempre regada a uisque, música e muita alegria; que estava sempre disposta a sair, mesmo que tivesse chegado de uma noitada há poucas horas (isso me impressionava bastante, porque, mesmo apreciando muito uma balada, eu "durmo devagar" e ninguém conte comigo antes de matar o meu sono, no dia seguinte!). Agora estava alí, numa cama de hospital, sem capacidade, sequer, de se comunicar ... Muito triste, essa constatação de que somos todos vulneráveis e de que o minuto passado pode ser o último da nossa vida saudável!

Ao mesmo tempo, fica a mensagem que ela tanto tentou passar: Viva cada dia como se fosse o último da sua vida, pois ninguém viverá os seus sonhos.

Agora já estamos mais otimistas. Os médicos dizem que, tendo passado o perigo das 72 horas pós-AVC, o quadro pode se reverter e ela poderá, lenta e gradualmente, recuperar tanto os movimentos como a fala, com a ajuda de fisioterapeuta e fonoaudiólogo. Ainda não percebemos sensíveis melhoras, mas estamos esperançosos de que isso venha a acontecer brevemente.


Dando sequência à aziaga semana, na terça-feira seguinte ao acidente com a minha irmã e, mais uma vez, por telefone, recebo a notícia do falecimento de uma pessoa que marcou um período breve, porém inesquecível, da minha vida: Fôra embora para sempre o homem que me fez feliz e me mostrou que o amor, realmente, pode ser eterno enquanto dura.

Viví com ele por dois anos, uma década depois de separada do primeiro marido que, como se diz por aqui, "me deixou sal na moleira" quanto à vida a dois. Numa época em que eu considerava inimaginável a possibilidade de voltar a viver com alguém e, "curtindo a vida adoidado", não levava a sério qualquer relacionamento, "caí de quatro" por esse homem, a ponto de conhecê-lo num fim-de-semana e na quinta-feira seguinte já estarmos morando juntos, bem à moda televisiva. Foi uma época memorável e tivemos momentos ímpares, desses que a gente chega a pensar que nunca mais vai ter fim. Ele foi um homem encantador. Companheiro, amigo, cúmplice, amante e parceiro inigualável de todas as horas, mas uma falha no seu caráter veio pôr fim ao nosso idílio: Era viciado em jogatina e eu tive, a contragosto, de abrir mão do meu enlevo emocional e do único hiato de amor real e palpável que vivenciei, em toda a minha vida, em detrimento do meu solitário sossego.... Com os aplausos do meu filho, que, por motivos óbvios, não o tolerava e fazia tudo para nos separar, reforçando o velho clichê do filho-homem enciumado (eu mereço!).


Nunca me arrependí da minha decisão de tê-lo expulsado da minha vida, apesar de todo o sofrimento decorrido disso pra ele, pra sua família - que até hoje me adora ... Pude constatar isso na ocasião do seu sepultamento - e pra mim mesma, que não sou de pedra, mas me amo demais pra jogar todos os meus mais caros valores, que compreendem dignidade e honra, na lata do lixo, por alguém que não quis ser ajudado a conquistar esses mesmos valores e trocou tudo o que tinha pelo vício. Infelizmente, pra nós dois, nunca mais conseguimos - ele e eu - nos reabilitar nesse campo... Acho, até, que gastamos todo o nosso teor de amor um com o outro.

Morreu sozinho, de um carcinoma no cérebro, na terça-feira, 26 de junho, cinco dias após descobrir a causa da sua doença e vinte e quatro dias após ter sido internado sob a suspeita de ter sofrido um AVC.

Tenho sofrido muito com a sua perda definitiva, porque há em mim um insistente e recorrente sentimento de remorso por não ter podido dizer-lhe quão importante ele foi na minha vida ... E a certeza de que ele jamais saberá disso não me faz bem, principalmente depois de saber, pela sua mãe, que ele se foi pensando que eu o desprezava.

Ah! Se ele soubesse quanta falta me fez e que ninguém jamais o substituiu em meu coração!