PARABÉNS, RECIFE!

ONTEM COMEMOROU-SE O ANIVERSÁRIO DO RECIFE E DE OLINDA, SUA IRMÃ MAIS VELHA, QUE NASCEU DOIS ANOS ANTES DELE. FOI BONITA, A FESTA. TEVE FREVO, MARACATU, CIRANDA, COCO-DE-RODA, MUITA FOLIA E UM BOLO GIGANTE PRA FESTEJAR A EFEMÉRIDE, NA CIDADE, ALÉM DE MENSAGENS E IMAGENS LINDAS SOBRE A "VENEZA BRASILEIRA" VEICULADAS PELA TV DURANTE TODA A SEMANA, COMO SERIA DE PRAXE.

SABE-SE QUE AMBAS CIDADES JÁ EXISTIAM DESDE 1534, COM A CHEGADA DE DUARTE COELHO À CAPITANIA DE PERNAMBUCO, MAS, OFICIALMENTE, A DATA DOS ANIVERSÁRIOS É BASEADA NA CARTA FORAL ESCRITA EM 12 DE MARÇO DE 1537, QUE O DONATÁRIO ENVIOU AO REI DE PORTUGAL RELATANDO COM PRECISÃO AS BELEZAS E ENCANTAMENTOS DO LUGAR.

SOMENTE EM 1630, COM A VINDA DOS HOLANDESES, COMANDADOS POR MAURÍCIO DE NASSAU, A CIDADE COMEÇOU A EVOLUIR, ENCHENDO-SE DE CONSTRUÇÕES HISTÓRICAS QUE A FEZ SUPLANTAR OLINDA EM MODERNIDADE, ATÉ TORNAR-SE CAPITAL, EM 1827, ANOS DEPOIS DA EXPULSÃO DAQUELE QUE FOI O GRANDE ARQUITETO DO RECIFE, DE QUEM MUITOS FALAM TER SIDO UM DOS ÚNICOS GOVERNANTES REALMENTE SÉRIOS DO BRASIL EM TRÊS SÉCULOS DE COLÔNIA EUROPÉIA. SEU GOVERNO FOI CONSIDERADO UM "PARÊNTESES LUMINOSO" NA HISTÓRIA DA REGIÃO.

BANHADA POR RIOS E CORTADA PELO MAR, A ORIGEM DO SEU NOME, NATURALMENTE, ESTÁ LIGADA À SUA RELAÇÃO COM AS ÁGUAS. HOJE, É O 2º MAIOR POLO MÉDICO DO PAÍS, COM GRANDE CONCENTRAÇÃO DE HOSPITAIS E ESPECIALISTAS DE TODOS OS RAMOS DA ÁREA, ALÉM DE ESTAR DESPONTANDO NO RAMO DA TECNOLOGIA DE PONTA COM A CRIAÇÃO DO PÓLO DIGITAL, LOCALIZADO NO RECIFE ANTIGO - GRITANTE CONTRASTE ENTRE O MODERNO E O ATUAL, QUE É UMA DAS SUAS CARACTERÍSTICAS ARQUITETÔNICAS.

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A PROPÓSITO DA PASSAGEM DO SEU ANIVERSÁRIO, PUBLICO ABAIXO UM POEMA DE UM AMIGO, MANUEL TAVARES (O MESMO QUE JÁ ME PRESENTEOU COM UMA DAS SUAS POESIAS) QUE, EMBORA NÃO DECANTE, PROPRIAMENTE, AS INFINITAS BELEZAS DO RECIFE, RETRATA A SUA DURA REALIDADE DE GRANDE CIDADE:


"ODE À MISÉRIA"

Hoje não cantarei o Recife de Manuel Bandeira
Da lira e das bandeiras liberais;
O Recife do "chicote queimado" da Rua da União
Do "coelho sai-não sai"
Hoje cantarei o Recife das mulheres da vida
E desses homens marginais
O Recife dos loucos, que estendem a mão e riem de si mesmos
Como se fossem seres tão normais.

Hoje cantarei o Recife dos heróis sem glórias e sem nomes
Cuja lista daria, tranquilamente,
Pra encher as estantes da Academia de Londres
Sim, hoje cantarei o Recife dos mangues, das palafitas,
Das crianças exangues,
Que teimam em existir.
O Recife das crianças que andam sobre a lama em busca de siri.

Hoje cantarei o Recife do "É melhor partir"

"Mamãe, acho que vou pro Rio de Janeiro
Porque lá não tem um rio que fede como este aqui"!
Mas o rio Capibaribe não escuta,
Porque está preocupado em molhar a várzea
Pra desovar a miséria. O Recife é coisa séria!
Às vezes esquisito, às vezes esquistossomose.
E enquanto um delira, o outro morre
Sem saber do quê, por quê e para quê.
E lá no Bar Savoy, tantos de porre!
Lá no Bar Savoy, onde o poeta Carlos Pena nunca disse:
"Recife, eu tenho pena de você".

Hoje não cantarei o Recife das pontes, nem da Família Pontes;
Nem dos Vieira, nem dos Freire, nem dos Bandeira.
Cantarei o Recife das pontes entre a miséria do ser e do não ser.
Hoje cantarei o Recife dos mendigos,
Desses artistas de circo, que saltam do trapézio pra morrer.

Hoje cantarei o Recife das igrejas , da erva, do porre e do xixi
Mas não cantarei o Recife do Cinema Moderno**, de terno,
Pois o filme real dessa cidade não passa alí.
Mesmo assim, eu não vou para Pasárgada!
EU QUERO É FICAR AQUI!!!



OBS:
a) Este poema foi feito há vinte anos, quando ainda existiam, em todo o seu esplendor, o Cinema Moderno, (em cujos primórdios se ia de terno) , nem o Bar Savoy,antológico ponto de encontro dos boêmios e intelectuais recifenses, situado na Av. Guararapes, no centro da cidade. Em suas mesas o poeta pernambucano, CARLOS PENA FILHO,escreveu o seu mais renomado refrão: "SÃO TRINTA COPOS DE CHOPE, SÃO TRINTA HOMENS SENTADOS; TREZENTOS DESEJOS PRESOS, TRINTA MIL SONHOS FRUSTRADOS".

b) *A Rua da União, situada no bairro da Boa Vista, às margens do Capibaribe, foi onde nasceu, viveu e se fez adulto o insigne poeta MANUEL BANDEIRA.