quarta-feira, março 28, 2007
INOCENTES GROSSERIAS
Não há nada mais bizarro do que testemunhar uma grosseria feita com a intenção de ser gentil. Lembro de uma ocasião em que uma colega de trabalho, tendo voltado, ainda arrasada e muito chorosa, de uma licença pelo falecimento do seu pai, que havia sucumbido a um mal súbito, enquanto recebia de todos nós os competentes votos de pesar, ouviu, estarrecida, de uma outra companheira, a seguinte frase-padrão: "Querida, você está muito triste, eu sei, mas foi melhor assim ... Afinal, ele estava sofrendo muito e Deus o chamou pra acabar com o seu padecimento".
Nunca esquecí a cara da inditosa filha, olhando entre confusa e estarrecida pra outra e, entredentes, comentando, baixinho, comigo: "Como assim? Papai vendia saúde, porra!".
Neste último fim-de-semana estive em Caruaru pra visitar a minha mãe, a quem os males da velhice vêm definhando assustadoramente. Meus irmãos e eu estamos muito apreensivos com a sua condição atual, porque ela sempre foi muito dinâmica e auto-suficiente e agora já demonstra um certo delineamento de um fim inexorável, embora cada um de nós prefira ignorar e fingir que ela não tem 93 anos e que os achaques da idade não são irreversíveis, por motivos mais que óbvios.
Quando vimos a nossa santa mãezinha numa cadeira, sem poder se levantar sozinha e andando com o auxílio de uma muleta, entramos em pânico! Aquilo produziu um efeito aterrador e logo começamos a ligar pros parentes e amigos mais chegados pra comunicar e comentar o fato. Foi daí que recebí de um deles esse inusitado alento:
"Regina, eu gosto muito da sua mãe e vou lhe pedir um favor: Eu quero ser o primeiro a pegar na alça do caixão e faço questão de levá-la até a sua última morada! Ela foi como uma mãe pra mim e você e seus irmãos não podem me negar esse privilégio!".
Isso só serviu pra descontrair um pouco o baixo astral da gente. Quanto contei pros demais, acabei me divertindo muito com as respostas. A minha irmã mais velha, que é uma verdadeira Derci Gonçalves no palavreado de baixo calão, fez um gesto obsceno com o dedo médio, acompanhado da frase: "AQUI, PRA ELE! VÁ AGOURAR A RAPARIGA DA MÃE DELE, QUE FOI QUEM O PARIU!"; O meu irmão, não menos estressado, disse: "POR QUE TU NÃO MANDASSE ELE TOMAR NO CU?"; o meu filho, falou: "VOU LOGO AVISANDO: QUANDO EU VIR ESSE FILHO DA PUTA, VOU MANDÁ-LO PRA CASA DE CARALHO!"
Como vocês podem ver, a minha família, quando se trata de perder a classe, não tem pra ninguém! Ainda mais em se tratando da nossa matriarca.
No fim das contas, isso acabou por nos fazer rir muito e o bom da história é que quando saímos de lá a minha mãe já estava andando sem a muleta, toda feliz e fazendo planos pra uma viagem que vamos fazer, todos juntos, a Aracaju, a fim de visitar uma das minhas sobrinhas, que recentemente mudou-se de São Paulo pra Sergipe e acaba de ser aprovada em primeiro lugar num concurso pra Professor Catedrático na Universidade local.
Nunca esquecí a cara da inditosa filha, olhando entre confusa e estarrecida pra outra e, entredentes, comentando, baixinho, comigo: "Como assim? Papai vendia saúde, porra!".
Neste último fim-de-semana estive em Caruaru pra visitar a minha mãe, a quem os males da velhice vêm definhando assustadoramente. Meus irmãos e eu estamos muito apreensivos com a sua condição atual, porque ela sempre foi muito dinâmica e auto-suficiente e agora já demonstra um certo delineamento de um fim inexorável, embora cada um de nós prefira ignorar e fingir que ela não tem 93 anos e que os achaques da idade não são irreversíveis, por motivos mais que óbvios.
Quando vimos a nossa santa mãezinha numa cadeira, sem poder se levantar sozinha e andando com o auxílio de uma muleta, entramos em pânico! Aquilo produziu um efeito aterrador e logo começamos a ligar pros parentes e amigos mais chegados pra comunicar e comentar o fato. Foi daí que recebí de um deles esse inusitado alento:
"Regina, eu gosto muito da sua mãe e vou lhe pedir um favor: Eu quero ser o primeiro a pegar na alça do caixão e faço questão de levá-la até a sua última morada! Ela foi como uma mãe pra mim e você e seus irmãos não podem me negar esse privilégio!".
Isso só serviu pra descontrair um pouco o baixo astral da gente. Quanto contei pros demais, acabei me divertindo muito com as respostas. A minha irmã mais velha, que é uma verdadeira Derci Gonçalves no palavreado de baixo calão, fez um gesto obsceno com o dedo médio, acompanhado da frase: "AQUI, PRA ELE! VÁ AGOURAR A RAPARIGA DA MÃE DELE, QUE FOI QUEM O PARIU!"; O meu irmão, não menos estressado, disse: "POR QUE TU NÃO MANDASSE ELE TOMAR NO CU?"; o meu filho, falou: "VOU LOGO AVISANDO: QUANDO EU VIR ESSE FILHO DA PUTA, VOU MANDÁ-LO PRA CASA DE CARALHO!"
Como vocês podem ver, a minha família, quando se trata de perder a classe, não tem pra ninguém! Ainda mais em se tratando da nossa matriarca.
No fim das contas, isso acabou por nos fazer rir muito e o bom da história é que quando saímos de lá a minha mãe já estava andando sem a muleta, toda feliz e fazendo planos pra uma viagem que vamos fazer, todos juntos, a Aracaju, a fim de visitar uma das minhas sobrinhas, que recentemente mudou-se de São Paulo pra Sergipe e acaba de ser aprovada em primeiro lugar num concurso pra Professor Catedrático na Universidade local.
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