quarta-feira, agosto 26, 2009

CUMADE MINERVINA ESTREIA NO SHEHERAZADE


APRESENTAÇÃO

Cumade Minervina é uma velhinha muito ranzinza, que vive de olho na vida alheia e não aceita as modernidades. Ela se escandaliza com tudo o que não se identifica com o seu tempo e o seu modo de pensar e fala pelos cotovelos... Sozinha, diga-se de passagem. Esse é o único grande diferencial entre ela e uma fofoqueira clássica. Por essa razão é muito bem vista pela vizinhança, que nem de longe adivinha o quanto a anciã sabe sobre suas vidas e quão crítica ela pode ser.







RESMUNGOS MONOLOGAIS


- Eita, que tem coisa nesse mundo de meu Deus que eu só vejo pruquê tenho dois óio na cara! Num tá vendo que fia minha num se passa pruma desavergonhice dessa! Se tivesse mãe, num fazia! Ah! Fazia não! Mas a mãe, em vez de ficar em casa pra tumar conta da cria, foi foi simbora pro estrangêro, atrás de raparigagem c’aquele galego de nome isquisito, “Sêo Mister”, ixproradô de mulé vadia que nem ela. O pai da menina, um cachacêro safado, só fez emprenhá a miseráve e pulou fora, que ele num era besta nem nada de tá dando casa, comida e rôpa lavada pra uma sendeira daquela, que derna de pequena vivia se esfregando nos meninos da escola e mais tantos hômi que visse pela frente. Inté as árvre pirigava pra ela, pruquê num pudia vê um pau em pé! Parecia que tinha um friviôco nas parte, nunca vi uma coisa daquela! Todo mundo já sabia que aquilo num ia dá pra nada que prestasse. Foi só parí, já caiu no mundo, dexando a fia cum aquela égua veia que é a mãe dela. Ô mulé besta! Em vez de obrigar a sujeita a trabaiá pra criá a menina, ficô c’a bixinha, sustentano ela da charque ao sabão. Botô na iscola, levô pra igreja, a menina inté era da Congregação de Maria! Inda me alembro que ela tomava bença a todo mundo, vivia dento da igreja, comungando todo dia, ensinando catecirmo e ajudano o pade nas obra de caridade. Um inzempro de menina! Foi só ficá taludinha, já o sangue ruim da mãe começô a dá siná... Deu pa beber, xerá cola, andá cum tudo quanto é alma sebosa da redondeza e a raparigar feito uma Messalina despudorada, tá e quá a quenga que lhe pariu, que era pra ganhar dinhêro pra pudê sustentar os vício. Pôco mai tava robando e daí pra a cadeia foi um pulo.
Tudo isso era inté toleráve, ninguém isperava mermo fruta boa duma raiz pôde e todo mundo sabe que formiga, quando qué se perdê, cria asa, mas essa novidade que ela inventô agora foi a pior coisa que pudia acontecê. Ninguém havera de dizê que uma parenta de Sêo Nequinho, um hômi tão bom, caridoso e temente a Deus, ia dá um disgosto desse à famía!
Apôi num é que a disgramada da menina agora, pra acabá de compretá a disgracêra, ajuntô-se cum um magote de pastô farso, desses que anda pelai vendendo terreno no céu e dando diproma assinado por JESUS CRISTO e virô sabe o quê? BISPA! Adonde já se viu uma mulé bispa, pulo amô de Deus?! Se brincá, daqui a pôco tá na política... Proquê ô lugázin pra dá gente ruim e cheia de má custume, viu!
Eu tava tão incafifada cum essa sina triste daquela menina, que andei de cunversê cum uns e ôtos e cabei ficando mais conformada. Disse que é assim mermo. Tudo quanto é bispo e pastô dessa tár de Igreja Niversá já foi bandido, de vida errada, aviciado e tudo quanto num presta já fez no mundo, pra podê hoje se dizer arrependido, inganando os besta e ficando rico às custa deles. Disse que a bandidage é um tár de istájo pra sê procuradô de Jesus aqui na terra ... Vôte! TE ESCONJURO!!!
Peguei a imagem no Google, sem identificação do autor.