domingo, dezembro 10, 2006

SOBRE CLARICE LISPECTOR

Fui convidada pelo Lino (http://www.linoresende.com.br/blog/) para participar da blogagem coletiva sobre a genial escritora Clarice Lispector e, pernambucana que sou, aceitei o convite pois não poderia me furtar a homenagear esta que foi uma das ilustres figuras que tanto enchem de orgulho o povo de Pernambuco, local onde viveu desde os dois meses de idade até os dezessete anos, quando se mudou para o Rio de Janeiro.
Hoje, se viva fosse, estaria completando 87 anos e ontem, dia 09, fez 29 anos da data do seu falecimento. Daí a justificativa desta homenagem.

Sobre sua vida e obra encontrei muita informação, mas me decidí por publicar apenas estas curiosidades, porque não há como comentar a respeito de alguém sobre quem já foi dito, por ninguém menos que a crítica francesa Hélène Cixous: "Se Kafka fosse mulher; Se Rilke fosse uma brasileira judia nascida na Ucrânia; Se Rimbaud tivesse sido mãe; Se tivesse chegado aos cinqüenta. (...). É nessa ambiência que Clarice Lispector escreve. Lá onde respiram as obras mais exigentes, ela avança. Lá, mais à frente, onde o filósofo perde fôlego, ela continua, mais longe ainda, mais longe do que todo o saber".
CURIOSIDADES:

Diz a lenda russa que, uma vez enferma, a mulher alcança a cura engravidando. Foi por isso que Pinkas e Mania Lispector, casal de judeus ucranianos, conceberam Clarice. Mania estava paralítica, possivelmente vítima do mal de Parkinson. "Então, fui deliberadamente criada com amor e esperança. Só não curei minha mãe. E sinto até hoje essa carga de culpa: fizeram-me para uma missão determinada e eu falhei. Como se contassem comigo nas trincheiras de uma guerra e eu tivesse desertado." Clarice Lispector nasceu a 10 de dezembro de 1920 na aldeia de Tchetchelnik na Ucrânia (na época, parte do território da Rússia), próximo à fronteira com a Moldávia, em plena rota de fuga.
A família judia escapava da perseguição do governo russo. A travessia de alto risco durou dois anos. Havia assaltantes cossacos espreitando na estrada e os refugiados escondiam as jóias dentro dos trapos que usavam como roupas. Pinkas arrumou algum dinheiro fazendo sabão até chegar a Budapeste, na Romênia, quando conseguiu visto no consulado da Rússia. Embarcaram no vapor Cuyabá, em Hamburgo, na Alemanha, dividindo com outros 25 imigrantes o balanço das ondas no porão da terceira classe.
No Recife, o pai ganhou a vida no lombo de um burro, como mascate. No início, almoço era laranja e pão. Com seis anos, Clarice inventava histórias que não tinham fim. Quando atingia um ponto em que era impossível prosseguir - todos os personagens mortos, por exemplo - ela dizia: "Não estavam bem mortos", e recomeçava. Pensava que os livros nasciam espontaneamente, como bichos e árvores. Ao saber que eram feitos por escritores, quis ser um deles. A mãe faleceu em 1930. O pai se foi dez anos depois, quando já estavam no Rio de Janeiro, onde Clarice iniciou a carreira literária. Seu destino era nômade. Casou com o diplomata Maury Gurgel Valente, com quem teve dois filhos (Pedro e Paulo) e correu o mundo. Viveram em Nápoles (Itália), Berna (Suíça) e Washington (Estados Unidos), até ela se separar e fincar âncora no Leme, na zona sul do Rio, em 1959. "Era fiel a seus sentimentos, acima de tudo", afirma a biógrafa Teresa Ferreira.
Internada com obstrução intestinal, a caminho do hospital, afirmou: "Vamos brincar de faz-de-conta. Não estamos indo para o hospital, eu não estou doente e nós estamos indo para Paris." O motorista do táxi virou-se: "Posso ir junto?" "Pode levar a namorada também", respondeu Clarice. Tinha um adenocarcinoma de ovário, o caso era irremediável. Em 8 de dezembro de 1977, vomitou sangue e tentou sair do quarto, mas foi barrada por uma enfermeira. "Você acaba de matar o meu personagem", disse Clarice. Morreu na manhã seguinte. Ainda ditou para a amiga Olga: "Eu, eu, se não me falha a memória, morrerei." Ficou o rastro do cometa, o pó das estrelas.
VOCÊ SABIA? Era solitária e tinha crises de insônia. Ligava para os amigos e dizia coisas perturbadoras. Imprevisível, era comum ser convidada para jantar e ir embora antes de a comida ser servida.
SALVE A GRANDE DAMA DA LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA, IMORTALIZADA POR SUA OBRA DE VALOR INESTIMÁVEL!