terça-feira, janeiro 03, 2006

MAJOR SINVAL

Foi uma figura memorável da Antiga Caruaru. Político, trocadilhista, glosador, poeta e farmacêutico, notabilizou-se através da sua performance à frente da PHARMÁCIA FRANCEZA, botica herdada dos seus pais adotivos, em cujo balcão aprendeu o ofício de preparar remédios fitoterápicos, os quais prescrevia para a cura de doenças da matutada carente de assistência médica, um legítimo DOUTOR RAIZ.

Mas foi na arte de traduzir os bilhetes através dos quais a caipirada descrevia os sintomas dos seus males que o "SÊO MAJOR" se tornou famoso. Não era tarefa das mais fáceis, acreditem! Esses bilhetes constituíam um verdadeiro libelo contra as autoridades competentes(?)e demonstravam todo esforço despendido por aqueles que ousavam sair da ignorância do analfabetismo. Pungentes e lastimáveis, é verdade, porém tragicômicos. Eis aqui um exemplo de um deles, que lhe foi enviado por uma mulher de "vida fácil"(?):
" SEHO SIVÁ 1 REMDO PA 1 DAMA Q FAZ SINCO SUMANA INRASCOU SEM VER OS TEMPOS DELA E PERCIZA VIR POZ NÃO ER FAMILHA E VEVE DISO NÃO PODE TER BARIGA MANDE" (sic).
TRADUÇÃO:
SÊO SINVAL: MANDE UM REMÉDIO PARA UMA DAMA QUE HÁ TRÊS SEMANAS NÃO MENSTRUA E PRECISA MENSTRUAR, PORQUE NÃO É DE FAMÍLIA E NÃO PODE ENGRAVIDAR, POIS VIVE DISSO.

Tem também um episódio engraçadíssimo, presenciado pelo seu biógrafo, NELSON BARBALHO, intelectual caruaruense que, pretendendo colher informações para o seu livro "MAJOR SINVAL", editado em 1968, recheado de "causos", postou-se na Farmácia a fim de registrar in loco alguns deles. Boquiaberto, escutou o seguinte diálogo entre o boticário e um cliente que o abordou com a seguinte pergunta:
- SÊO SINVÁ, O SENHOR TEM AÍ UM REMÉDIO CHAMADO "SARTA PRA RIBA DO BICHO"?
- TENHO. QUANTOS VOCÊ QUER?
- ME DÊ DOIS.
Sinval vai até a prateleira, pega dois vidrinhos e os entrega ao matuto, que vai embora, satisfeito.
A essa altura, Nelson, absolutamente pasmo, faz a pergunta que não quer calar:
- MAJOR, QUE DIABO DE REMÉDIO É ESSE?
E o farmacêutico, sorrindo entredentes, responde:
- O REMÉDIO É SALSA PARRILHA, DO BRISTOL, QUE É O LABORATÓRIO RESPONSÁVEL PELA SUA FABRICAÇÃO, NELSON!

Outro episódio narrado no mesmo livro, conta o "causo" do bilhete recebido por um comerciante de estivas da redondeza, que não conseguia decifrar o pedido do seu cliente, tal a truncagem da redação. Esse, nem o Major conseguiu traduzir:

2 barica de bacaio
2 fardos de ciara
1 saco daroi
6 cegos

Os três primeiros ítens foram prontamente entendidos: 2 barricas de bacalhau; 2 fardos de ceará (carne seca); 1 saco de arroz ... mas os 6 cegos, não houve quem soubesse o que poderiam ser! O Major até arriscou, sarcástico do jeito que era, a sugerir que o missivista poderia querer promover uma convenção entre deficientes visuais, mas ponderou que esse material não seria solicitado num armazém de estivas, é óbvio! Quando já se dava por vencido, lembrou de um conterrâneo do remetente(morador de um lugarejo da periferia de Caruaru) que trabalhava ali perto e que talvez conseguisse desvendar aquele mistério. Mandou chamar o sujeito e lhe mostrou o pedido. Este não se fez de rogado: Assim que botou os olhos no último item, objeto da dúvida, matou a charada:

- Ôxe, Major, o sinhô num sabe lê, não? O que o homem quer é 6 queijos!
- Queijos??? - exclama, espantado o Major - Onde diabos você tá lendo "queijos" aqui, rapaz?
- Ô, Major, ói aqui: CÊ-Ê-CEQUÊ-GÊ-Ó-CÊ-JÓS, QUÊ-JOS, QUEIJOS!



FOI ASSIM. O CAUSO EU CONTO, COMO O CAUSO FOI!