"SEU NELSON RODRIGUES
PARA DE TANTO FALAR
MULHER QUE É MULHER
N ÃO GOSTA DE APANHAR"
Foi através da letra dessa marchinha de carnaval que eu ouví falar pela primeira vez na execrável frase do polêmico escritor e teatrólogo pernambucano, NELSON RODRIGUES , por quem durante muito tempo nutrí uma antipatia visceral em função dessa exdrúxula análise sobre a alma feminina ... "Mulher gosta de apanhar" ... Quem era ele, pra falar assim, com tanta pretensa propriedade, do que vai no âmago da mulher?. Eu sou mulher e não gosto de apanhar e ai daquele que ousar, sequer, insinuar bater em mim - divagava, remoendo impropérios e sonhando encontrar esse sujeito pela frente, pra ele ver quem é que gostava de apanhar. Como isso era quase impossível, me vingava odiando tudo o que ele escrevia; não vendo os seus filmes, nem acompanhando novelas ou minisséries baseadas nas suas baboseiras. Quer saber? Nem ENGRAÇADINHA, tão badalada, eu assistí, sob protesto! A gota d'água foi saber que, além do porco chauvinista que demonstrava ser, ainda se tornou desafeto de ninguém menos que Chico Buarque, que eu amo de paixão. Aí foi demais! Numa espécie de neura mucho loca, comecei a imaginar que o negócio era comigo, era pessoal, tinha certeza! Ele tá usando Chico pra me atingir! - pensei. Dá pra ter uma idéia de como esse sujeito me era intragável, agora?
Pois eu acho que ele deve é tá dando gargalhadas de mim, lá debaixo dos sete palmos - Que Deus o tenha (se for possível)! Depois do que eu ví acontecer sob o meu nariz, não duvido de mais nada e, em alguns casos, até lhe dou razão, em parte: Realmente HÁ MULHERES QUE GOSTAM DE APANHAR(!). Sem generalizações injustas, é claro. Nunca pensei que fosse admitir isso, um dia, mas agora estou certa de que, como o ditado diz, "Tem doido pra tudo" mesmo!
Mas eu tô me perdendo em divagações e acabo não dizendo do que se trata este meu post. Vou explicar o porquê da minha mudança de ótica, então: Como acontece sempre aos domingos, à tardinha, eu costumo fechar o meu findi ao som de um chorinho delicioso, regado a uisque ou cuba-libre num bar de um amigo (que ninguém é de ferro, né, pessoal?) e lá conhecí uma moça que faz jus a essa categoria de mulheres que gostam de apanhar ou, como se diz hoje em dia, "MULHERES QUE AMAM DEMAIS" (?), embora eu as considere "MULHERES QUE SE AMAM DE MENOS". Juro que eu achei que era exagero das pessoas que comentavam isso, pois nunca havia percebido o que se passava bem ali, à vista de todos, até o último domingo, quando ela, tendo chegado mais tarde, ficou sem mesa e pediu pra sentar comigo e minhas irmãs, que já estávamos acomodadas. O seu companheiro já se encontrava no recinto, também e, como costuma dar uma "palhinha", cantando e tocando percussão com o conjunto musical "Pedacinho do Céu", responsável pela animação, estava lá no palco, mas sempre de olho na moça, que parecia uma estátua, com medo até de se mexer, tal era a sua vigilância cerrada em cima dela.
Eu percebí que vez em quando ele vinha junto dela, falava um monte no seu ouvido e voltava pro palco. Numa dessas vezes o ouví gritar muito com ela mas, como o som do chorinho abafava os seus gritos, não conseguia detectar o que ele dizia. Comecei a me inquietar quando, olhando de soslaio, a ví chorando, embora tentasse disfarçar ... "Isso aqui não vai prestar "- pensei. Eu me conheço e sei que se aquele cara fosse bater na mulher alí, na minha mesa, eu não iria me segurar ... Foi então que uns amigos que se encontravam em uma mesa vizinha me chamaram pra dizer que estavam revoltados porque todas as vezes em que o sujeito veio junto da tal moça, sem que nós percebêssemos, dava-lhe socos e puxava-lhe os cabelos disfarçadamente e ela, pra não dar bandeira, suportava tudo ali, chorando em silêncio, evitando o vexame junto a nós. Quando eu os questionei sobre o fato de assistirem, impassíveis, àquele abuso, eles me falaram que já haviam interferido, uma vez, mas ela, ao contrário de ficar agradecida pela sua defesa, havia cortado relações com todos eles, dizendo que não se metessem em sua vida, pois ela sabia bem o que fazia e ninguém tinha o direito de lhe prestar uma ajuda que ela não pediu... É mole?
Fiquei sabendo, também, que a tal mulher havia se indisposto com um outro amigo meu, que é dono de outro barzinho, porque ele, tendo assistido uma agressão do cara contra ela, no seu estabelecimento, proibiu-o de voltar ali e não mais serviu-lhe bebidas. Isso foi o suficiente pra mim, que nunca mais correrei o risco de sentar com ela em lugar algum, pois sei que não vou conseguir deixar barato caso ele venha a agredí-la na minha frente, mesmo com a sua própria conivência.
Doravante vou tentar compreender NELSON RODRIGUES, embora ainda não concorde com a generalização do termo que eu, com a sua devida vênia, adaptaria pra "HÁ MULHERES QUE GOSTAM DE APANHAR", ainda assim, com alguma cautela. Esse negócio de que "um tapinha não dói", definitivamente, não dá pra mim!
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