quarta-feira, setembro 28, 2005

MÔNICA, A INOCENTE

Começo meu post pedindo desculpas pela ausência, mas é que houve um "barato" com o meu blog e eu não estava conseguindo ativá-lo. Não só não publicou o que eu havia postado, como não me deixava acessar os coments no haloscan, razão porque estive em falha com os meus 4 ou 5 assíduos queridos visitantes. Foi mal!

Hoje lembrei de Mônica, uma menina de rua que conhecí pedindo esmola na minha porta e que se tornou tão assídua, que acabei por contratá-la pra babá, num momento de desespero e de absoluta emergência, quando a labuta diária exigia minha assiduidade ao trabalho e os deveres de mãe me obrigavam a providenciar alguém pra me substituir na guarda do filhote, ainda muito pequeno pra ficar sozinho, quando a antiga babá foi embora sem aviso. Pois bem, foi assim que Mônica entrou na nossa vida e "marcou presença", pois se revelou uma pessoa responsável, fiel e amiga (hoje sou madrinha do seu filho).

Era uma menina de 15 anos, com aparência de 10; subnutrida, analfabeta e sem a menor noção de religião ou qualquer outra orientação na vida. Claro que eu cuidei logo em alfabetizá-la e iniciar o processo de interação dela com um mundo menos desumano e tratando-a como uma pessoa digna de respeito e atenção como qualquer outra, estabelecendo, assim, um relacionamento bem diferenciado do convencional patroa-empregada, o que a fez apegar-se muito a mim e à minha família.
Bom, isso foi uma introdução pra traçar um perfil aproximado de Mônica, cuja inocência e despreparo nos comovia e surpreendia diuturnamente, a ponto de tornar-se, pra mim, um valioso acervo de histórias envolvendo as mais hilárias inacreditáveis situações. Esta é uma delas:
Numa das vezes em que foi apanhar meu filho no colégio, instituição católica tradicional aqui de Recife, aonde, todas as tarde, havia a celebração de uma missa pelo capelão, ela me veio com essa:
- D. Regina, hoje eu assistí a uma missa! (com ar de quem tinha feito a coisa mais importante da vida).
Eu, que vez em quando tentava lhe passar alguma noção da existência de Deus, perguntei:
- Ah, é? E então, o que é que você achou?
- Ai, eu gostei muito do padre ... ele é tão legal! Mesmo sem me conhecer, quando ele me viu me chamou pra frente e me deu uma bolachinha ...
Eu quase caí dura!
- E o que foi que você fez com essa bolachinha???!
- Ah! Eu mastiguei, mastiguei, mas não tinha gosto de nada ... só não cuspí porque fiquei com vergonha, já que o padre tinha sido tão bonzinho, né?
Daí eu falei pra ela:
- Mônica! Aquilo não é uma bolachinha, nem era pra você mastigar! É o corpo de Cristo e a pessoa deve engolir sem mastigar, menina! - E ela, com a maior cara de remorso:
- Ô meu Deus! E agora? ... Será que doeu, no bichinho?!
Claro que eu tentei explicar que não era o corpo físico do Criador que estava alí, e tal, mas já era tarde demais ... bem mais tarde é que eu fui dimensionar o mal que havia causado àquela inocente criatura, pois ela me surpreendeu, altas horas da madrugada: Com o colchão e o travesseiro na mão, adentrou o meu quarto, me acordando em sussurros:
- Dona Regina, eu posso botar meu colchão aqui no seu quarto? Tô com medo de dormir sozinha!"
- Que novidade é essa, Mônica? Você nunca teve medo de dormir só!
- É porque eu tô com medo do Satanás!
- O Quê?!!! Aqui, na minha casa, não tem disso não, filha!
- Eu sei ... mas é porque eu mordí Jesus e ele pode vir me atentar, né?

Vocês podem me chamar de insensível, mas eu não resistí à gargalhada que irrompeu repentinamente de mim. Pode alguém ser assim tão ingênua?
Pois Mônica era... e essa é apenas uma das muitas histórias que eu tenho dela. Oportunamente, contarei mais.

Bom dia!