segunda-feira, janeiro 09, 2006

E VIVA O BOM HUMOR!!!

Enquanto esperava o sinal abrir, no centro da cidade, visualizei um carro, paralelo ao meu, cujo condutor esbravejava contra cinco mulheres que conversavam no passeio que divide os dois lados da avenida. Tratavam-se de moças-garis (que aqui chamamos de "margaridas", acredito que por causa da cor "amarelo-cheguei" dos seus uniformes). Escoradas nos seus instrumentos de trabalho - vassouras, pás, ancinhos, etc ... - elas batiam um papo descontraído, numa pausa não justificada àquela hora, talvez aproveitando-se da ausência de um supervisor que lhes chamasse à sua dura realidade.

Aguçando os ouvidos, percebí que o sujeito dirigia mil impropérios àquelas trabalhadoras - sua recente contratação pela prefeitura era, à época, uma novidade, porque até então esse serviço tinha sido exclusivamente efetuado por homens -, dizendo coisas como: "É NISSO QUE DÁ, ENTREGAR A LIMPEZA PÚBLICA ÀS MULHERES! ESSE BANDO DE FOFOQUEIRA FICA AÍ, FALANDO DA VIDA ALHEIA, ENQUANTO A CIDADE PERMANECE SUJA! VÃO TRABALHAR, BANDO DE VAGABUNDAS! VOCÊS ESTÃO GANHANDO O MEU DINHEIRO PRA FOFOCAR, É?
Pronto. Estava armada a confusão ... As mulheres começaram a responder à altura, com palavreado censurável e brandindo suas ferramentas em direção ao seu desafeto: "VAI TOMAR NO C.., SEU FDP! VENHA AQUI, FALAR ISSO PERTINHO DA GENTE, QUE VOCÊ VAI VER SÓ!
E o sujeito não deixava por menos: "É ISSO MESMO, SUAS FOLGADAS! PENSAM QUE EU TENHO MEDO DE VOCÊS? EU VOU AÍ, SIM!
- ENTÃO VENHA! - Diziam elas
- OLHA QUE EU VOU, HEIN?
- VEM NADA! TU É UM FROUXO! SÓ TÁ FALANDO ISSO PORQUE TA AÍ, NO CARRO!
- POIS EU VOU, QUEREM VER? - Disse ele, abrindo a porta do carro...

O desafiante era um homem de meia-idade, grisalho e eu já começava a temer pela sua integridade física, observando a latente ira das "margaridas", todas elas armadas, enquanto pensava cá com meus botões ... "Esse cara vai "sifu" gratuitamente, pois poderia muito bem ter passado ao largo, perdendo uma grande oportunidade de ter se calado ... Como é que existem pessoas tão agressivas, meu Deus?"
Nesse ínterim, o cara já estava saindo do carro em direção a elas, quando parou, de repente, e fez uma pergunta inesperada:
- PERAÍ ... QUANTAS VOCÊS SÃO?
A mais robusta delas, que segurava uma ameaçadora pá, respondeu:
- SOMOS CINCO! VAI ENCARAR?
Daí aconteceu o que ninguém esperava (a essa altura já eram muitos os expectadores, inclusive o guarda de trânsito que, como todos os demais, assistia, incrédulo, ao desenrolar da contenda - a ponto de nem perceber que o sinal já abrira): O homem pôs a mão na cintura, deu uma "bichada" e, com um característico meneio de cabeça, soltou essa:
- DEUS ME LIVRE! UMA MULHER É PRA OUTRA, CINCO É DEMAIS!!!
Ato contínuo, entrou no carro, deu partida e se mandou, morrendo de rir, como todos nós, que assistíamos àquela cena - inclusive o guarda!

Esse sujeito passou a figurar entre os meus tipos inesquecíveis.